O perdão de Abe?

Hoje, o Japão relembra os 70 anos da derrota de seu exército nacionalista na segunda guerra mundial para os Estados Unidos após o bombardeiro nuclear nas cidades de Hiroshima e Nagazaki. O primeiro-ministro japonês Shinzo Abe fez um discurso onde afirmou que as futuras gerações não devem pedir desculpas sobre os atos cometidos pelo Japão além de reconhecer os erros cometidos na época e ao mesmo tempo, continuou a não pedir perdão aos países ocupados como China, Coreia do Sul e Coreia do Norte.

Após o discurso, China e Coreia do Sul exigiu explicações do Japão sobre a sua falta de humildade por não reconhecer o cruel colonialismo praticado pelo país além do fato de ter chinesas e coreanas como escravas sexuais para entreter os oficiais do exército imperial. Ambos os países teme que a retórica nacionalista que foi adotada por Abe possa abandonar a doutrina pacifista que foi imposta ao Japão pelos americanos. Prova disso é a lei que permite o Japão usar tropas em operações internacionais.

A intenção de Abe em fortalecer as forças armadas diante da disputa territorial com a China e Coreia do Sul por disputa de ilhas inabitadas no mar da China. Quando Abe diz que as futuras gerações não precisaram mais pedir perdão pelos erros de seus antepassados. Isso cria um clima de revisionismo para os japoneses. O nacionalismo defendido pelo primeiro-ministro é tanto elogiado quanto criticado. A reinterpretação da constituição pacifista de 1947 pode trazer mais problemas para o Japão.

As empresas japonesas que tem negócios com Coreia do Sul e China podem sofrer retaliações como ocorreu em 2013. O Japão nunca assumiu os crimes de guerra cometidos na segunda guerra mundial. Se um premiê visita o memorial de Yasukuni. Isso irrita China e Coreia do Sul pelo fato de 14 criminosos de guerra estão enterrados no santuário dedicado aos japoneses mortos em batalha. Nunca houve uma indenização aos países cujo a população sofreu com os abusos do exército imperial japonês.

Se o Japão quer fortalecer suas forças armadas. Precisa resolver os problemas do passado com os países asiáticos. Chineses e sul coreanos querem que o país reconheça os crimes de guerra. Mas neste momento com o nacionalismo de Abe impede uma solução diplomática para esse caso. Os atos de revisionismo adotado pelo primeiro-ministro não ajudam em nada em suas ambições militares. Mas as futuras gerações terão que se perguntar que a recusa de pedir um perdão pode lhe custar o seu futuro.

O escândalo Toshiba

O Japão tem uma cultura de trabalho representada no respeito e lealdade baseada na hierarquia. Isso se reflete em sua cultura corporativa e nas empresas. Mas tal modelo de gestão que impressionou o mundo ocidental com o milagre econômico dos anos 1970 a 1980 está em crise. Hoje, o grupo Toshiba anunciou que seu executivo-chefe e presidente, Hisao Tanaka,  e seu vice-presidente no conselho administrativo, Masashi Muromachi, renunciaram após uma comissão independente encontrar erros nos balanços contábeis da empresa.

Os lucros foram inflados para atrair os investidores e acionistas mesmo com a concorrência pesada de empresas chinesas e sul-coreanas além dos problemas com divisão que cuida das usinas nucleares desde do fechamento das mesmas após o acidente nuclear na usina de Fukushima. Tal prática foi condenada pelo ministro das finanças Taro Aso afirmando que isso subestima a cultura corporativa japonesa além de prejudicar a recuperação da economia local promovida pelo primeiro-ministro Shinzo Abe.

Um funcionário não questiona as práticas adotadas por seu superiores no Japão. Mas o país asiático nunca se recuperou da bolha da crise econômica de 1987. Isso criou um cenário de deflação (onde os preços de mercados vivem em queda, mas não se tem a recuperação do poder aquisitivo da população) e uma estagnação na economia. A cultura da meritocracia e lealdade permaneceu intacta por muitos anos permitindo que um simples empregado possa se aposentar na mesma empresa que trabalhou por toda a sua carreira.

Mas desde da ascensão do primeiro-ministro Shinzo Abe e sua doutrina econômica conhecida como Abenomics, que permitiu fazer reformas na economia e um corte de gastos pelo governo afim de tirar a economia da espiral recessiva que vive desde da decada perdida nos anos 1990. Mas a desvalorização do Iene além dos planos econômicos cujo o objetivo era consolidar o crescimento da economia precisavam de um complemento que o papel do investidor privado em ter empresas competitivas.

A mudança da cultura corporativa é de suma importância para a economia japonesa. Os executivos precisam ser fiscalizados e cobrados através de metas claras e que podem ser cumpridas para a aprovação dos acionistas. Não estamos no tempo do Japão feudal onde os senhores feudais definiam o futuro de seus trabalhadores. O capitalismo japonês precisa ser modernizar para permitir a inovação tão prometida e incentivada por Abe. Esse longo caminho precisa ser feito quando os executivos fazem a coisa certa invés de pedir desculpas por terem tomado decisões erradas e com nefastas consequências para as companhias como a Toshiba.

Deflaçãofobia

Quando a economia vê uma queda de preços de produtos e serviços que não acompanha o ganho real do poder de compra de uma população. Isso é chamado de deflação. Muitos países viveram isso. O exemplo cabal disso é o Japão pós-crise financeira de 1987. O governo não fez reformas que criasse um equilíbrio das contas públicas mais um setor privado que pagasse suas dívidas acumuladas ao longo dos anos de euforia e farra. O Japão viveu uma década perdida nos anos 1990 até a volta da política de estímulos econômicos do premiê Shinzo Abe, o Abenomics.

O medo da deflação ronda a Europa. Os países-membros da Eurozona estão sofrendo com isso dado o fato de suas taxas de desempregos são muitos altas como Espanha e Grécia ou a economia está em um ritmo lento de crescimento no caso da Alemanha. Desde do começo do ano, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi vem propondo um programa de estímulo econômico. Mas isso é rejeitado pela Alemanha, que defende que as nações europeias arrumem a casa na questão das dívidas internas e deficit fiscal.

O Quantitative Easing feito por Estados Unidos, Reino Unido e Japão teria muitos problemas legais porque o BCE não tem está prerrogativa. Mas uma decisão da corte europeia de justiça permite o uso do OMT (Outright Monetary Transactions). Este plano permite o financiamento das economias do velho continente via a compra de títulos da dívida destes países pelo Banco Central Europeu. Mas a oposição da Alemanha a está operação financeira vem do fato que os governos ainda não colocaram a casa em ordem como reformas no sistema de aposentadorias e trabalhista.

Mario Draghi terá que convencer os alemães usando o argumento da deflação. Se um europeu comum tem um salário baixo para um custo de vida que perde valor, mas mesmo assim se mantém caro. A deflação está agindo de forma a corroer o poder de compra. Mas como estimular os governos a investirem em infraestrutura ou o setor privado no mercado do velho continente em um cenário tenebroso. Mesmo com o anúncio de plano de investimentos pelo presidente da comissão europeia, Jean-Claude Juncker, a Europa não sai do atoleiro.

A chanceler alemã Angela Merkel terá que ser convencida a apoiar a estratégia de Draghi para conter a deflação. Isto vai exigir uma ampla argumentação que afirme que o OMT não vai prejudicar as contas públicas dos países endividados da Eurozona como Grécia e Espanha. Este cenário tenebroso pode prejudicar a Alemanha no longo prazo. Mas o europeu comum se pergunta como o OMT poderá ajudar na sua vida. A resposta será quando a economia tiver uma inflação controlada e tal ser poder ter um custo de vida simples e que cabe no bolso.

A vitória do Abenomics

Ontem, os japoneses foram a urnas para decidir o futuro do país. O premiê liberal-democrático Shinzo Abe foi reeleito para o cargo. O partido Liberal Democrático conseguiu conquistar 291 cadeiras no parlamento junto com o seu parceiro de coalizão, o budista Komeito com 35 assentos. Em um momento onde a economia japonesa está em recessão e o programa de estímulo econômico proposto por Abe, apelidado de Abenomics, promete recuperar a confiança dos japoneses que convivem com a deflação e afins.

Com dois terços do parlamento sob seu controle, Abe terá mais poderes para colocar em prática o Abenomics e a sua agenda nacionalista como mudar a constituição pacifista de 1947, para permitir um novo papel para as forças armadas como ajudar os Estados Unidos em contendas contra a Coreia do Norte e ser um contraponto ao expansionismo chinês. Com baixa participação da população com 52% dos eleitores registrados foram as urnas mesmo sob uma onda de frio e neve que atinge o país.

Abe afirmou que não quer complacência com o cenário econômico atual onde a recessão e a deflação continua de forma presente. As reformas na economia que ele prometeu em 2012 e 2014 pode ser necessárias para tirar o Japão da letargia que vive. Uma mudança nas leis trabalhista pode causar uma crise sem precedentes na cultura do trabalhador começar a sua carreira e se aposentar na mesma empresa. A demanda por imigrantes de outros países asiáticos e do Brasil com seus dekasseguis (descedentes de japoneses)

Uma das empresas que são exemplo das mudanças propostas por Abe é a montadora de carros Nissan, que demitiu funcionários no início dos anos 2000 e começou uma revolução administrativa feita pelo brasileiro Carlos Ghosn. Agora, o primeiro-ministro deseja que o Japão possa ser uma grande força econômica que perdeu o 2º lugar entre as grandes economias para a China. O Abenomics pode ser a solução ou fracasso de Abe para tirar a economia do estado de recessão que sempre vive desde da crise econômica de 1987.

O Abenomics é uma doutrina econômica que pretende modernizar o Japão tanto economicamente quanto politicamente. Mas decisões controversas poderão ser tomadas como autorizar o funcionamento das 48 usinas de energia nuclear que foram desligadas após o acidente de Fukushima. Este novo Japão prometido pelo primeiro-ministro terá que ser forte para reforçar a sua posição. A assinatura de acordos de comércio com países como Austrália e Índia é um sinal que as mudanças de Abe ganham apoio e definirão o futuro político do premiê;

A falha do Abenomics

Quando uma economia vai mal. O mercado exige mudanças na política econômica. Mas no Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe decidiu agir de uma outra forma. Ele anunciou eleições antecipadas para dezembro. Dado o fato de que a oposição está rachada e o país asiático está em recessão técnica (quando se tem crescimento negativo do PIB por dois trimestres consecutivos). Abe pode ganhar a votação, mas terá que ser honesto com a nova doutrina monetária que irá adotar.

O Abenomics se baseia no investimento interno via um programa de estímulo econômico além do controle monetário e da inflação. As medidas econômicas deram certo em 2013 e isso rendeu ganhos políticos como a maioria na câmara baixa e da câmara alta do parlamento japonês. Feito inédito para um primeiro-ministro em início de mandato. A economia japonesa cresceu de forma robusta e com uma estabilidade nos preços que prejudicava qualquer reação de Tóquio.

Mas a política econômica de Abe começou mostrar fadiga e o Japão está em recessão. A antecipação das eleições gerais mostra que o primeiro-ministro quer evitar uma eventual pressão do partido liberal-democrático como lhe aconteceu em 2006 após uma onda de demissões de ministros por escândalos de corrupção. Tal movimentação surpreendeu os vizinhos como a China, que tem uma certa rusga com o líder japonês por causa da disputa de ilhas inabitadas no mar da China.

Desde da saída do ex-premiê Junishiro Koizumi, o Japão teve 6 primeiro-ministros diferentes (Abe, Yasio Fukuda, Taro Aso, Yukio Hatoyama, Naoto Kan e Yoshihiko Noda). Isto se deve a má situação da economia local. Os japoneses se lembram da decada perdida nos anos 1990, onde a situação econômica era vulnerável além de ter uma ampla queda de preços ( a temida deflação), mas que impedia um ganho real na renda dos trabalhadores nipônicos com alto custo de vida.

O parlamento japonês será dissolvido na próxima sexta-feira e as eleições irão ocorrer no meio de dezembro. A perspectiva de uma nova vitória de Abe pode lhe permitir um voto de confiança e conduzir as reformas necessárias na economia japonesa. Ele terá que aumentar os impostos. A medida tem sido adiada por muito tempo, mas se provou ser de vital importância para o governo. O Abenomics pode ter uma ampla revisão doutrinária para recuperar de suas falhas.