Como sermos incluídos na sociedade?

Tenho uma amiga escritora que luta por mais inclusão de minorias como as mulheres negras como ela no circuito literário. Penso nisso quando converso com ela sobre os nossos sonhos literários. Mas deparamos com uma realidade onde não somos vistos como parte de um grupo intelectual por mais que no meu caso por causa do combo esquizofrenia/autismo/aspie em que nossa sociedade pensa de uma forma arcaica sobre o admirável mundo novo dos tempos contemporâneos.

Minha amiga escritora tem um longo trabalho de incluir a palavra da mulher negra no mundo literário. Eu posso discordar do discurso identidarista que reina neste setor cultural. Por mais que nós falamos de inclusão. Mas vejo poucas pessoas negras escrevendo, editando e publicando livros tanto por editoras quanto por sites de comércio virtual que lhe rende um ganho com os direitos autorais. Então, temos que mudar uma realidade tão complicada como agora.

Minha amiga colunista da Folha conseguiu um contrato de trabalho pra traduzir a biografia da filósofa alemã Hannah Arendt. Ambas são judias e escrevem muito bem sobre o mundo literário. Porém, ela conseguiu o primeiro grande trabalho por ser professora de mestrado em uma universidade irlandesa no condado irlandês de Cork. Com a pandemia, ela engrenou o trabalho com as colunas do jornal junto com um podcast. Ela nasceu em Recife e gosta do Asterix.

Porém, como iremos resolver tais distorções?

Precisamos expandir o mercado literário criando a cultura de ler livros. Mas lidamos com uma realidade onde as pessoas pensam que quem lê é uma pessoa da elite. Sem contar o obscurantismo das redes sociais onde as pessoas querem patrulhar aqueles que pensam diferente. Falta um certo pluralismo onde ideias heterogêneas possam conviver em um mundo homogêneo.

A muito trabalho pela frente.

Precisamos de amantes culturais?

Os tempos do desgoverno nos mostram complicados. Logo entendo porque os meus amigos do meio cultural não tem paciência com o dessecretário de cultura que não mova uma palha pelo bem do nosso país. Pensei nisso quando chegou um livro usado em minha casa sobre a queda da cortina de ferro em 1989 com as páginas de fotografias grudadas devido a falta de cuidado com o exemplar. Porém, ele está em minha biblioteca pessoal para o fim de pesquisa.

Faltam pessoas que gostam de cultura como uma forma de espalhar o conhecimento humano. Isso me faz questionar sobre o mundo. A moça que me atendeu quando comprei os livros comentou que um cliente dela gasta 100 reais em livros como se um livro fosse visto como uma extravagância contemporânea. Parece que esquecemos que a função da prensa foi fundamental para a publicação de livros durante a renascença como uma forma de registro das teses humanas.

Vejo os meus amigo cinéfilos discutindo séries e filmes enquanto a minha amiga colunista da folha comenta sobre a literatura contemporâneo. Porém, logo precisamos de amantes culturais para que podemos discutir sobre a questão cultural sem sermos vistos como seres estranhos que falamos de livros para um grande público que não tem acesso a tais publicações por causa do preço caro que é feito por causa dos impostos e a não realização de uma reforma tributária.

O livro é visto como uma forma cara de cultura em um país que não tem o hábito de ler os jornais, revistas e livros. Isso me soa como uma preocupação diante de uma necessidade de discutirmos assuntos com profundidade sem sofrermos o olhar torto sobre como deveríamos lidar com o pensamento porque temos acesso a livrarias onde podemos conversar com o livreiro sobre os novos lançamentos do mercado editorial sem problemas e livres das amarras intelectuais.

Logo entendo que as pessoas não tem paciência para entender a política soviética com quem comentei com o meu amigo professor de filosofia americano em nossa conversa sobre o filósofo Isaiah Berlin sobre a liberdade em seus pontos positivos e negativos. Enfim, teremos uma longa discussão sobre o mundo cultural onde os livros são fundamentais para um momento onde poderemos ter um salto na qualidade da educação com a ajuda dos amantes culturais.

Livros em Berlim

Ontem, fui comprar uma smart tv para o meu escritório e aproveitei a oportunidade pra encomendar dois livros sobre a queda do Muro de Berlim e do império soviético. Estava no atendimento quando vi duas jovens mulheres com problemas relacionados ao atendimento enquanto eu fazia o meu login para acompanhar o andamento das compras. A moça da loja me perguntou porque compro livros e contei a história do fim do comunismo na Europa Oriental e no dia dos 60 anos da construção do Muro da vergonha. As garotas ficaram espantadas com isso.

Vivemos em um país onde não se tem livrarias em várias cidades e ainda temos o problema da privatização dos correios. Um leitor como eu lida com esses questionamentos porque compramos livros para podermos ler em nossa casa sem ser incomodados. Aqui em Pindamonhangaba, os jovens como eu não temos muitas opções de diversão em uma cidade do interior. Só temos uma livraria e sem contar os serviço de encomenda das redes varejistas que tem lojas aqui.

Logo entendo o espanto das jovens mulheres comigo por ter comprado livros sobre a queda do Muro de Berlim. Não temos o hábito de ler livros, revistas e jornais. Enquanto um jovem vendedor ainda ajeitava o problema de um email de uma das clientes no momento onde eu estava falando sobre os eventos de 1989. Tais garotas ficavam espantadas comigo por ter falado de um assunto bem distante de uma realidade onde as pessoas falam os termos do mundo do funk carioca.

A leitura de um livro abre uma nova fronteira do conhecimento humano. Porém, vivemos em um país onde a ignorância é cultivada e a leitura é visto como algo elitista. Temos que mudar tal realidade com uma política pública que permita o hábito de ler seja ensinado nas escolas para que o público possa ter acesso a livros junto com uma reforma tributária que possa estabelecer uma diminuição dos impostos para produtos literários e a simplificação dos tributos.

As duas jovens mulheres tentavam resolver os problemas de seus aplicativos na loja enquanto eu já resolvia a questão da leitura. Os livros vão chegar nos próximos dias diante da possibilidade de greve do setor postal de nossa nação por causa dos problemas relacionados a privatização da empresa de correios e telégrafos. Vou ter que esperar a minha encomenda chegar em um momento onde não sabemos qual o rumo o nosso país irá tomar na questão de ler um simples livro.

O mundo é carola

Eu sai do mundo literário faz uns 6 meses. Mas nada mudou desde então. Agora, a questão do biografo de Phillip Roth ser acusado de assédio sexual fez que a editora americana suspendesse a publicação do livro que era um o grande lançamento do mercado editorial americano do ano. A tradução brasileira foi suspensa até segunda ordem. Semanas atrás, a poeta americana Amanda Gorman fez o favor de escolher os tradutores de sua obra porque os holandeses escolheram uma mulher trans para o trabalho. Este mundo é uma chatice.

O carolismo literário ganha contornos tragicômicos. Traduções e biografias são motivos de uma cruzada pela moral e bons costumes. O caso do biografo de Roth é de policia….jurídica e não da patrulha dos editores idiotizados. Todos estão assustados com o poder da trevas onde aquele que cometa um erro merece um ostracismo que perdure por toda a vida. Isso prejudica a tradução de obras como o compêndio da vida de Roth junto com as poesias da senhora Gorman.

Cada vez mais fico pedindo uma guerra atômica. Estamos em um absurdo da ignorância por causa de uma necessidade de santificação de nossos pares. Na história contemporânea, vimos que a pureza criou monstros como a revolução cultural de 1966 na China e o terrorismo na então Alemanha Ocidental em 1977. Parece que não aprendemos com isso porque temos uma necessidade de termos uma vigilância contra aqueles que pensam diferente ou cometerem algo grave (pra estes casos existe a justiça).

Estamos diante de uma era de trevas travestido de inclusão intelectual. Gorman vetando uma escritora holandesa porque ela é branca e mulher trans porque não entenderia os versos de sua poesia de uma sociedade antirracista me soa um totalitarismo que dá margem ao pessoal da Fox News denunciarem os progressistas como usurpadores das liberdades individuais defendidas por conservadores que juram lealdade a pátria como um ar-15 nas mãos e um carro movido a gasolina.

Logo entendo porque vivemos uma era de chatice. As pessoas querem exigir uma sustentabilidade ética que beira a patrulha da pureza intelectual. Parece que não aceitamos ler livros escrito por crápulas humanos porque não aceitaremos sua arte. Entendo porque os americanos viram motivos de piadas em várias partes do globo terrestre por sua ânsia de honestidade culta que atenda os pedidos de intelectuais de cercearem o contraditório. Ou seja, o mundo é carola.

Deveríamos ler

Meu amigo roteirista sergipano está trabalhando pra pagar as contas. A pandemia lhe afetou por não ter dinheiro para continuar os estudos e comprar livros para ler. Em nossa conversa, eu lembrei dos tempos que trabalhei com o meu pai na oficina de motores elétricos onde ganhava por semana e gastava o dinheiro na compra de revistas, jornais e juntar os vencimentos para comprar um livro. Além de ter ajudado no conserto de uma impressora para poder ler as matérias da seção Mídia Global do UOL.

Vivemos em um país onde a desigualdade social é enorme. Muitas pessoas tem que trabalhar para ter dinheiro pra comprar o almoço. A pandemia mostrou este efeito dramático da perda de renda em nossa sociedade. O primeiro item de corte de gastos nos orçamentos familiares é a cultura. O nosso Brasil não tem livrarias em várias cidades do interior do Nordeste por exemplo onde possam comprar livros de escritores como José Lins do Rego e Graciliano Ramos.

Quando estava em um grupo de leitores de livros adolescentes de uma escritora famosa nas redes sociais. Muitos falam de publicações em caixas que custam 20% de um salário mínimo brasileiro que seria bancado por seus pais porque não trabalham. Os estudos exigem a compra de livros didático. Isso me lembra a história do meu amigo cientista onde os pais tiveram que tirar do Educere por causa da perda de emprego do patriarca em 1999. Em 2000, ele e suas irmãs voltaram a estudar no colégio onde eu estudava e nós ficamos amigos.

Muita gente passa por apertos e não temos uma rede de bibliotecas públicas onde as prefeituras possam fazer uma constante compra de livros por causa de uma visão canhestra de nossa sociedade inculta moldada por políticos que temem perder o poder por causa da fiscalização dos cidadãos atentos ao gasto público como melhorias nas escolas e hospitais que tanto necessitamos para atender a constituição de 1988 onde era direito consagrado o acesso a educação e a saúde.

Lidamos com uma sociedade que não estimula a educação e a cultura. O hábito de leitura se faz essencial em um momento onde teremos a missão de estruturar o nosso desenvolvimento econômico e social sem o fator desgoverno. Precisamos de uma ampla discussão sobre políticas públicas para que o meu amigo roteirista sergipano possa comprar um livro. O meu amigo do Educere é um cientista e o investimento em educação permitiram que suas irmãs pudessem morar fora do país. A leitura é importante.