O futebol nos explica

Eu tenho uma amiga que gosta da seleção alemã. Ela não pode acompanhar o jogo entre a Nationalelf vs Laranja Mecânica. O carrossel holandês anotou um gol aos 3 minutos enquanto a Alemanha meteu dois gols com jogadas de ataque mais precisas (mas a narração brasileira estava perdida naquele momento). Eu assisti o jogo para passar o tempo. Quando voltei do banho. Vejo o xmusk onde nossos amigos BRs estavam mandando a Espanha para a p*ta que pariu com o empate de 3 a 3.

Nós somos uma pátria que responde as coisas pela bola mesmo com dois ex-jogadores condenados por estupro e tendo gente passando o pano como dizem atualmente. Mas não aguentamos quando vendo um dos nossos sofrendo com o preconceito em uma terra estrangeira onde ficamos de mãos atadas para não conseguindo dar o nosso amparo. O empate no Bernabeu foi a nossa resposta a nação dos machos com problemas emocionais da catalunha a madrid.

A capital do país do Abascal sempre teve problemas com nós. O sentimento de superioridade tão comum naquelas bandas não aceita os africanos e os mouros. Na Formula 1, sempre tem uma piada estúpida sobre Lewis Hamilton e no futebol, o Vinicius Junior lida com tais problemas de tais machos que são as viúvas do generalíssimo. Isso cria um sentimento onde o nossos cidadãos sofrem este preconceito (isso logo vindo de mim que já me declarei anglo-australiano em certas ocasiões).

O Brasil tem um pachequismo que me incomoda por que queremos adotar a cultura estrangeira. Mas logo somos tratados como traidores da pátria invés de sermos os voluntários da pátria (saudosa banda do Nasi, do IRA). Logo nos vemos em um momento onde os bolsonaquistas e os pseudoesquerdistas querem ditar os rumos da discussão política em um momento onde só queremos ser felizes em nossas vidas.

Quando o nosso Pelé morreu em 2022. Eu estava lendo um texto onde a nossa seleção era popular entre os países que foram colonizados por europeus e tiveram a sua independência proclamada pelas potências coloniais europeias a partir do fim da segunda guerra mundial que o nosso futebol era uma resposta ao colonialismo por que nossos jogadores respondiam em campo as teses surradas do subdesenvolvimento entre outras trapaças geopolíticas.

Ou seja, quando vemos um gol do Endrick pela amarelinha é um belíssimo cala a boca do Santiago Abascal ou um André Ventura de ocasião….

Neofranquismo bate a porta

Em dezembro de 2019, eu estava vendo o debate entre os candidatos a primeiro-ministro da Espanha. Logo vi a figura de Santiago Abascal, do Vox, defendendo com unhas e dentes o franquismo. Pois bem, o Vox foi o quarto mais votado naquela eleição superando o Ciudadanos, liderado por Albert Rivera, por causa do apelo popular ao generalíssimo. Hoje, leio o jornal e soube que Madrid terá uma eleição local onde teremos a figura de Pablo Iglésias contra Isabel Ayuso. O fantasma de Abascal ronda las cortes.

Ayuso é chefe da seção madrilenha do Partido Popular e governadora de Madrid enquanto Iglésias é vice-premiê do governo central e figura do Podemos. Ambos decidiram nacionalizar uma disputa local e quem ganha com isso é Abascal com seu neofranquismo. A nostalgia é um sentimento perigoso na política. O ditador Francisco Franco não nutria pela democracia quando derrotou os republicanos na guerra civil espanhola entre 1936 a 1939 e tinha que aturar a sua patroa Carmen Duce.

Abascal quer a volta dos tempos onde a Seat fabricava cópias de carros da Renault e da Fiat sob licença. A época onde os filmes transgressores eram comédias eróticas. O momento onde era proíbido falar dialetos locais em regiões como o País Basco e a Catalunha. Além de restauração do monumento nacional como o Valle de los caídos que foi uma presepada franquista travestida de gesto de reconciliação entre franquistas e republicanos ao fim do confronto militar de 1939.

O Vox ganhou musculatura eleitoral ao fazer partes de governos de regiões autonomas como a Andaluzia onde fez um acordo com o Ciudadanos e o Partido Popular. Abascal defende a volta de uma Espanha perdida no cenário europeu com um pseudonacionalismo contra a visão cosmopolita de Bruxelas com quem faz coro a figuras como Marine Le Pen e Geert Wilders em suas denúncias contra o globalismo e a perda de soberania em detrimento ao projeto federal da União Europeia.

Ayuso acusa Iglésias de transformar Madrid em uma Venezuela. Iglésias rebate afirmando que uma trama da ultradireita irá tomar conta do Santiago Bernabeu. Eu me pergunto se os madrilenhos não terão paciência para troca de farpas ideológico invés de ouvirmos propostas sobre como a capital espanhola irá se recuperar da pandemia em setores como comércio e turismo. Enfim, teremos que aturar a figura de Santiago Abascal falando das glórias de Franco novamente na TVE.

A liberdade de expressão em Madrid

O grande debate espanhol é a prisão do rapper catalão Pablo Hasel por causa das duras críticas a monarquia espanhola. Nos últimos anos, o palácio de Zarzuela foi alvo de críticas por causa dos escândalos de corrupção envolvendo o rei emérito Juan Carlos e a princesa Infanta Cristina e seu marido. Isso criará um atrito com o primeiro-ministro Pedro Sanchez que tem uma relação cordial com o rei Filipe VI, mas que não está imune as críticas.

Os protestos na Catalunha mostram quão complicado está a situação política espanhola. Os espanhóis perderem o encanto com a monarquia que foi fundamental para a transição da ditadura franquista para a democracia com a eleição de 1977. Juan Carlos era elogiado por ter agido como um líder ao reprovar um golpe de estado na câmara das cortes quando o coronel do exército Antonio Terjero junto com seus soldados tomaram o controle do palácio de Moncloa (sede do parlamento espanhol) em 1981.

Hasel está enquadrado na lei espanhola onde proíbe ofensas a monarquia. Em um país que é elogiado por suas liberdades individuais e as críticas frequentes a Zarzuela nos jornais. Tal lei soa como um anacronismo. Sem contar o sentimento anti-madrid em regiões autonomas espanholas como a Catalunha cujo o parlamento regional é controlado por nacionalistas catalões que desejam a independência de Barcelona do poder central na figura de Madrid.

Zarzuela não vive uma boa fase. O simples anúncio que a princesa Leonora, a segunda da linha de sucessão ao trono espanhol irá estudar em um colégio de elite britânico para ter uma formação intelectual para assumir a responsabilidade de assumir a posição de chefe de estado já causou críticas. A prisão de Hasel foi a gota d’água para uma população impaciente com os rumos da monarquia por mais que os esforços de Felipe VI de modernizar a casa real.

A questão da prisão de Hasel irá criar mais uma crise política em Moncloa por causa da necessidade de reformas na constituição espanhola onde se permita a liberdade de expressão. Hasel foi duro em suas críticas a Zarzuela. Mas não podemos negar que tal anacronismo onde se impede as opiniões contrárias ao status quo espanhol só reforça a tese republicana em um país onde a monarquia foi fundamental para a manutenção da democracia. Esperemos os próximos capítulos.

A irritação em Madrid

Ontem, a RTVE transmitiu o único debate entre os cinco candidatos a presidência de governo na Espanha. Pedro Sánchez (PSOE), Pablo Casado (PP), Pablo Iglésias (Unidas Podemos), Albert Rivera (Ciudadanos) e Santiago Abascal (Vox) participaram de tal confronto de idéias. Mas logo percebi porque os espanhóis não tem paciência com a política tradicional.

Meu amigo AVC me perguntou se estava irritado com o debate por causa do meu senso de humor ácido com os candidatos a primeiro-ministro no Twitter. Ele estava certo em perguntar. Toda hora tinha que meter a Catalunha no meio junto com o festival de apontamentos de dedos sobre a corrupção de governos anteriores devido aos problemas econômicos e sociais.

Logo penso que os espanhóis não sabem em quem votar no dia 10 de novembro. Abascal defende a nostalgia franquista que é criticada por Sanchez. Pedro é questionado sobre os escândalos de corrupção por Casado. Rivera se afirma como o salvador da pátria quer unir o país da Catalunha a Madrid enquanto Iglésias se pergunta a que ponto chegou a política local.

AVC se pergunta como os espanhóis terão paciência quando forem as sessões eleitorais para a escolha de um novo parlamento. Sanchez promete estabilidade. Mas as pesquisas não garantem uma maioria absoluta para nenhum partido até o presente momento devido as questões econômicas, políticas e sociais. Isso permite a ascensão dos extremos nas figuras de Iglésias e Abascal.

Foi-se o tempo em que a política espanhola tinha figuras importantes como Adolfo Suárez, Felipe Gonzales, José Maria Aznar e José Luiz Rodrigues Zapatero. Os espanhóis sentem falta de um presidente de governo que seja capaz de inspirar-los a mudar as suas vidas em um momento de turbulência social que vive o mundo atual. Só sobra a irritação de sempre.

O drama espanhol

A Espanha vive mais uma novela política. O primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy renunciou ao cargo para formar um governo de coalizão com a mediação do Rei Filipe VI. Mas os boatos que um novo conselho de ministros poderá ser formado pelos partidos de esquerda como PSOE e Podemos é questão de horas mesmo com a divergência sobre a independência da Catalunha.

Estamos diante de uma indecisão onde os partidos como o conservador PP e o socialista PSOE querem evitar uma nova eleição para terem uma posição de liderança para formar um novo governo em um parlamento fragmentado que teria de ser aprovado por um moção de confiança na Câmara das Cortes assim que for anunciado pelo Rei Filipe VI após as negociações serem encerradas em Madri.

O papel de negociador de um monarca espanhol é uma novidade diante de um parlamento onde nenhum partido tem a maioria absoluta para governar sozinho. Filipe VI terá uma árdua tarefa de convencer os líderes partidários como Rajoy, o socialista Pedro Sanchez e o esquerdista Pablo Iglesias a negociarem a formação de um governo que possa sobreviver a moção de confiança para evitar a convocação de novas eleições.

Não se sabe a posição do centrismo representado pelo Ciudadanos. O partido tem 40 assentos na Câmara das Cortes e defendia a formação de uma grande coalizão entre conservadores e socialistas para isolar as posições radicais de Pablo Iglesias e o Podemos como a realização de um referendo sobre a independência da Catalunha tão rejeitada por PP e PSOE.

O trabalho de Filipe VI será longo para o jovem monarca. Seu pai, o rei Juan Carlos teve uma sensata habilidade política para levar a Espanha para a democracia lidando com conservadores e socialistas durante quase 40 anos. Filipe VI terá que criar uma relação cordial com os líderes partidários para ter a missão de criar um senso de estabilidade neste drama espanhol.