Penso na Irlanda do norte ouvindo The Smiths

Ontem, estava ouvindo o Today, da BBC Radio Four, diante das expectativas de um acordo diplomático entre Reino Unido e União Europeia sobre o protocolo da Irlanda do Norte. Nos termos atuais, tal arranjo coloca Belfast sob o guarda-chuva da UE diante do fato de ser a única parte do território britânico que tem uma fronteira seca com um país-membro da UE como a Irlanda. Isso era um problema para os unionistas que desejam manter vínculos com Londres.

Então, eu me vejo ouvindo The Smiths por suas críticas a Londres e a ao governo Thatcher como era comum na música britânica pelo fato da primeira ministra encarnar os piores medos dos jovens britânicos diante de sua força política em tolhir a modernidade. De Elvis Costello até os irlandeses do U2 tinham um desconforto com a líder conservadora por sua obstinação em resolver as coisas na sua maneira.

A violência político-religiosa na Irlanda do Norte era um dos problemas de Thatcher. Por mais que não tivesse paciência com o Sinn Fein, o braço político do IRA. Ela assinou o tratado anglo-irlandês de 1985 onde concordava em que os problemas norte irlandeses passariam por negociações entre Dublin e Londres abandonando a solução militar defendida por seu mentor e amigo pessoal Airey Neave que foi morto em 1979 por um atentado a bomba do IRA.

O The Smiths surge em uma época onde os dramas da adolescência precisavam ecoar no pensamento público britânico por mais que Morrissey tinha uma visão peculiar sobre a sociedade como é comum entre os gênios e suas disforias de personalidade. A Irlanda do Norte era um fantasma presente naquele momento no Reino Unido por causa do terrorismo e do medo político promovido em tais momentos pelo governo Thatcher.

O atual premiê britânico Rishi Sunak defendeu o acordo de Windsor onde permite que as importações da Grã-Bretanha e a ilha da Irlanda por meio do mar sejam retomadas sem os pontos de checagem. Além de permitir que Westminster possa ter a última palavra em assuntos norte-irlandeses como o governo executivo formado entre republicanos e unionistas conhecido como poder dividido. Enfim, eles ainda estão ouvindo Bigmouth Strikes Again….

Brexit no Twitter

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Nas últimas semanas, eu tenho postado textos sobre o referendo britânico sobre a permanência de tal nação na União Europeia. Bem, os britânicos decidiram sair do bloco europeu e vão ter longos dois anos de negociações com Bruxelas para que o divórcio seja feito sem maiores problemas a menos que os franceses querem fazer um processo doloroso para quem se atreva a sair da UE.

Mas na noite do dia 23 de junho de 2015. Fiquei no twitter para acompanhar as reações em torno da votação. A experiência foi fascinante porque tive uma troca de informações como o colunista da revista Época e excelente resenhista Helio Gurovitz junto com um velho conhecido repórter do jornal Folha de S.Paulo Raul Juste Lores que tinha preocupações com o ex-prefeito londrino Boris Johnson.

Sem esquecer da intensa conversa que tive com o meu amigo MV no facebook. Ele terá muito trabalho pela frente para esclarecer as minúcias do divórcio anglo-europeu. Eu esqueci de perguntar para o âncora da rede de tv britânica ITV, Alistair Stewart, sobre tais implicações sobre o cenário político britânico diante da eminente saída da União Europeia. Mas lembro que ele me enviou uma resposta que manteria sua imparcialidade diante de um cenário nebuloso que o Reino Unido irá viver nos próximos dois anos.

Mas tão logo comecei a minha jornada de desocupado muito ocupado. Meu amigo Diego me perguntou se iria escrever sobre o Brexit nos meus blogs. Caro Diego, vou postar textos de tal tema para que possa entender quão complexa vai ser tal separação de Londres do continente europeu. Vou ter que explicar para os meus amigos como Ron Groo e o britânico Colin Musk.

Passado-se longos três anos de idas e vindas. Os britânicos desejaram viver fora das padronagens europeias que tanto lhe irritaram. Mesmo que Paris vier a oferecer um jogo duro como uma forma de conter um sentimento euroceticismo nutrido pelos nacionalistas. Fica claro para mim que terei mais trabalho nos próximos meses em questões europeias.

Até tu, Boris

Mal começou a campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia. O campo anti-Europa ganhou um excelente apoio. O prefeito londrino Boris Johnson anunciou sua adesão ao grupo que é contra o acordo costurado pelo primeiro-ministro David Cameron. Ele deu uma declaração a imprensa na tarde. Mas o argumento viria em sua coluna publicada pelo jornal Daily Telegraph da amanhã.

Boris defendeu que o Brexit como uma forma do Reino Unido pudesse uma maior liberdade para assinar um acordo de livre-comércio com outros páises. Além de evitar uma maior federalização da União Europeia que diminua o poder dos parlamentos nacionais. Neste ponto é defendido afinco por Boris em sua coluna no Daily Telegraph que já ganha repercussão no Reino Unido neste final de noite (horário de Londres).

A adesão de Boris ao campo anti-Europa pode tanto lhe catapultar o prefeito londrino a liderança do partido conservador quanto lhe criar problemas na sua sucessão a prefeitura de Londres tendo Zac Goldsmith como o candidato tory. Johnson é um pendulo dentro dos tories pelo fato de ter um grande apoio popular além de ter uma escrita e fala de fácil entendimento entre os britânicos.

A grande discussão de amanhã no Reino Unido será como fica o campo político. Tanto o primeiro-ministro conservador David Cameron quanto o líder da oposição trabalhista Jeremy Corbyn irão prestar contas na câmara dos comuns. Ambos apoiam a permanência do país na União Europeia. Mas enfrentam um revigorado grupo eurocético tendo políticos populares como o próprio Boris e o eurocético Nigel Farage.

O artigo de Boris Johnson pode criar uma luta interna dentro do partido conservador, históricamente europeísta. Mas desde da ascensão de Margaret Thatcher e sua visão de uma Europa sem ter uma federalização criou uma nova visão dentro dos tories. Agora, Cameron consegue um acordo que cria um status especial para o Reino Unido dentro da União Europeia. Mas enfrenta uma formidável oposição de Boris Johnson.

O encontro de Downing Street

Hoje, o primeiro-ministro britânico David Cameron se reuniu com o seu secretariado para discutir a posição oficial do governo em questão do acordo que garante a permanência do Reino Unido na União Europeia. Após a reunião, Cameron anunciou a data do referendo para o dia 23 de junho e afirmou que a votação será uma decisão de uma vida inteira para os britânicos.

Mas é nítido o racha dentro do secretariado conservador. Entre os europeístas contam com apoio da secretária do interior Theresa May e o chancellor of exchequer George Osborne. No lado eurocético estão o secretário de justiça, Michael Gove; e seu colega de cultura, John Whittingdale; e de trabalho e pensões, Iain Duncan-Smith. Mostra-se uma tensão em Downing Street.

No primeiro referendo sobre a União Europeia em 1975. O primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson deu carta branca para o secretário de relações exteriores James Callagham para negociar o acordo. Mas havia uma clara divisão entre eurocéticos e europeístas representados por Tony Benn e Roy Jenkins respectivamente que protagonizaram uma acalorada discussão em um debate do programa Panorama, da BBC One.

Agora, Cameron permitiu que seus secretários tivessem liberdade para adotar qualquer posição sobre tal assunto. Mas um fator decisivo será a posição adotada pelo prefeito de Londres Boris Johnson. Johnson é considerado um dos políticos mais populares do Reino Unido e tem se mostrado reticente em relação ao acordo entre a nação britânica e União Europeia nos últimos dias.

As palavras de Cameron ditas hoje em Downing Street mostram como será difícil nos próximos meses a campanha tanto pró-Europa quanto pró-eurocética. Se David disse que será a decisão de nossas vidas mostra que seu esforço não foi em vão. Mas ainda vai precisar de confiança de ambos os lados para mostrar qual é a melhor decisão que pode  ser tomada pelo voto no dia 23 de junho de 2016.

Cameron dobra Bruxelas

Há poucos minutos, o primeiro-ministro britânico David Cameron anunciou que conseguiu um acordo que garante a permanência do Reino Unido com a União Europeia com a contrapartida de um status especial em questões como regulação financeira e uma quarentena de 7 anos para que imigrantes do países-membros do bloco europeu tenham acesso aos programas assistencialistas do governo britânico.

Podemos considerar que isso é uma vitória de Cameron. Mas ainda está longe de terminar. Amanhã, Cameron irá se reunir com o seu gabinete para decidir a posição oficial do governo sobre o acordo e poder anunciar a data do referendo que poderá ser realizado em junho. Não se sabe a reação tanto dos eurocéticos quanto dos europeístas neste momento vital na história britânica.

Durante a tarde de hoje, a BBC afirmou que o secretário de justiça Michael Gove poderia ser juntar aos eurocéticos. Mas a campanha do não pode ter o apoio do prefeito de Londres, Boris Johnson. Boris é um político muito popular entre os britânicos. O resultado da reunião pode consolidar a posição pró-Europa mesmo com secretários discordando da proposta de Cameron.

Cameron conseguiu dobrar Bruxelas mesmo tendo a sua liderança contestada dentro do Reino Unido. A resistência dos países da Europa Central, França e Áustria mostrou ser frágil diante do interesse comum do pragmatismo da Alemanha e da Comissão Europeia que fizeram concessões para evitar a saída do Reino Unido do bloco europeu de maneira sútil e consistente.

Agora, o primeiro-ministro terá uma longa discussão com a população sobre as vantagens do acordo que deu um status especial para o Reino Unido em contrapartida do país permanecer na União Europeia. Mas os próximos meses serão intensos tanto por causa das eleições locais na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte além do próprio referendo que será realizado em junho. Mas de momento, Cameron dobrou Bruxelas.