O humor não se resume ao stand up

Em 2014, eu estava assistindo o Newsnight, da BBC Two, no dia que o comediante britânico Rik Mayall morreu. Ele era um expoente do humor alternativo dos anos 1980 onde surgiu uma geração de comediantes, redatores e roteiristas como Ben Elton, Dawn French, Jennifer Saunders, Lenny Henry e Alexei Salway. Eles produziram as séries da BBC Two como Young Ones e French & Saunders e escreviam o Spitting Images.

Esse é o humor que eu gosto por não se resumir ao stand up comedy feito nesses trópicos atualmente. Logo nos vemos em uma questão onde o brasileiro gosta de rotular para reduzir as coisas. Não fazemos um humor que nos agrade porque o idiota do diretor da vênus platinada ainda pensa em piadas onde julga que o acreano tem que entender invés de estimular a experimentação como uma forma de oxigenação.

O brasileiro de rede social não gosta da acidez e do lado sombrio da risada. Logo vemos a necessidade de punir um humorista que fez piadas do capacitismo até o politicamente incorreto. Mas esquecemos que temos uma necessidade de patrulhar o próximo onde inibe a capacidade criativa de nossos comediantes. Parece que temos que escrever uma piada pra passar pelo crivo de um censor invísivel ao grande público.

Logo nos vemos em uma sinuca de bico porque não temos liberdade para fazermos aquilo que acreditamos. Eu tenho um grande amigo com vocação para o humor negro e sempre questionamos isso em nossas conversas. A mim, eu só fico rindo de piadas causticas sobre a humanidade junto com os especiais de comédia do serviço de streaming que tem um N como símbolo porque acho melhor que os roteiristas da vênus platinada.

Queremos rir sem sermos censurados pelo pensamento público. Temos o direito de tirarmos sarro do mundo e da humanidade. Porém, sempre terá alguém para falar que o humor está em um péssimo estado. O stand up precisa sair do riso fácill do politicamente incorreto e achar um rumo próprio como vemos os comediantes britânicos. O humor alternativo dos anos 1980 surgiu em um momento onde se tinha uma puritana em Downing Street a ser satirizada.

O humor judeu

Em 2002, eu estava de recuperação no Educere. Então, minhas férias foram postergadas. Nesse tempo, assisti o filme Sou ou Não Sou, com Mel Brooks e sua finada esposa Anne Bancroft. A trama se passa na Polônia de 1939 onde os nazistas invadiram o país e a trupe de teatro liderada pelo personagem de Brooks foge com mil truques de humor e de disfarce. Aquilo me encantou por falar de um assunto complicado como a segunda guerra mundial.

Outro filme que retrata bem o humor judaico é Zelig, de Woody Allen, onde o personagem do cineasta se disfarça de diferentes formas pela humanidade. Allen foi a personificação do humor de New York por suas piadas relacionadas ao judaísmo enquanto era colunista da revista The New Yorker onde publicou o texto Contos Hassidicos. Tal passagem foi publicada no Brasil pelo livro Cuca Fundida lançado nos anos 1970 e traduzido pelo escritor Ruy Castro.

Recentemente, temos o diretor neozelandês Taika Waititi com seu filme Jojo Rabbit onde retrata a segunda guerra mundial pelo olhar de um menino que tinha como amigo imaginário uma versão tosca do líder nazista Adolf Hittler. Tanto que Taika interpretou tal personagem com um senso de humor único mesmo com as pedradas do meu amigo Frizzoneto por que achou ser uma glorificação do discurso nacional-socialista.

Três filmes de diferentes épocas retratam um período sombrio da humanidade com senso. O que tem em comum: os diretores são judeus. Não se tratou de uma glorificação do nazismo. Mas um acerto de contas com um passado traumático onde o discurso de ódio era usado e amplificado pelo cinema como as tomadas dos filmes de Leni Riefensthal que era a cineasta preferida de Hittler naquele momento onde os cinejornais eram a fonte de informação para os alemães.

Outro filme de Mel Brooks foi Os produtores onde uma dupla de dois produtores teatrais dão um golpe com um musical chamado Uma primavera para Hittler. Só que tal peça foi um sucesso inesperado. Em entrevista a Conan O’Brien. Brooks afirmou que tal filme sofreu resistências entre as distribuidoras que eram controladas por judeus. Para driblar isso, ele mudou o nome da produção que se chamaria Uma primavera para hittler.

Ou seja, certas coisas não mudam atualmente…..

O humor é imperfeito

A piada tem como objetivo te fazer rir de algo. O problema no Brasil é que se exige uma necessidade de ser perfeita por causa do teóricos do humor porque assistiram o Seinfeld. Isso me soa uma chatice contemporânea pela a obsessão de ter métodos para fazer um xiste de forma engraçada como se fosse uma operação de matemática. Perdemos a capacidade de fazer algo natural ou que soe imperfeito nesses trópicos.

O humor é uma imperfeição em si. Hoje, temos a estética da Globo e do Porta dos Fundos com a necessidade de sketchs com ares de um cinema sem graça para imitar os americanos. Os atores decoram um texto escrito por um redator e um roteirista com ares hollwoodianos. Mas isso não funciona por que o povão e o público da classe média prefere as piadas pesadas de Léo Lins ou um vídeo do Quatro Amigos pra rir.

Se Glauber Rocha tinha a estética da miséria no Cinema Novo nos anos 1960. Hoje, o humor tem a necessidade de ser imperfeito. Isso se demonstra por comediantes querendo fazer algo como Andy Kauffman fazia nos palcos americanos ou Howard Stern destila sua acidez em seu programa de rádio na Sirius XM no modo freak onde faz perguntas para seus entrevistados após anos de terapia e de muita porralouquice.

A internet brasileira permitiu o culto da imperfeição onde os populares tendo seus vídeos se tornando virais no Youtube e os comediantes stand up postando trechos no reels do Instagram e no TikTok. Mas vivemos uma era de censura e da patrulha do moral e dos bons costumes identitários. Estamos em um tempo onde se ama a comédia, mas odiamos o comediante parafraseando o pai do conservadorismo Edmund Burke no século 18.

Hoje, o humor é uma catarse do riso. Porém, estamos em um momento onde as pessoas querem tolhir o direito de rir. Não se combate os preconceitos com a censura na piada. Uma sociedade lida melhor com seus vícios e virtudes rindo de si mesma invés de ter uma coisa seletiva com alvos previamente escolhidos para serem satirizados. A imperfeição é o melhor jeito de entender o mundo do que ficarmos fiscalizando a gargalhada alheia.

Uma chatice sem graça

Ultimamente, os debates sobre a comédia são entediantes com aquele discurso sobre a gênese de nosso país que não sabe rir de si mesmo. Os comediantes reclamam da censura ampla, geral e irrestrita de nossa população cuja as perguntas das pesquisas de opinião para atestar o déficit de piadas a serem entendidas por brasileiros em seu modo de vociferar xingamentos com adjetivos ofensivos por quais ignoramos.

Eu me vejo nisso porque desisti de fazer tiradas no Twitter diante do fato da população de rede social não entender o sentido do riso e da vida. Isso virou uma chatice contemporânea por causa de um momento onde as pessoas gostam de censurar meio mundo por causa de sua falta de inteligência tão comum em uma sociedade onde não se entende o que se escreve junto com a incapacidade de interpretar um texto.

Hoje, os brasileiros se mostram mais idiotas por nossos debates ultrapassados por causa do nosso asilo de ideias aposentadas e discussões arcaicas de nossa nação. Me sinto como um ser entediado em ver uma ausência de cultura nestas bandas por ver um ímpeto de censura ampla, geral e irrestrita em nossa sociedade onde pensar diferente ou fazer uma piada vira uma necessidade de castração intelectual por atrevimento social.

Me vejo com uma impaciência com a burrice contemporânea que gera a nossa chatice na necessidade de censurar o pensamento alheio. Os comediantes querem mais liberdade para fazer piadas. Mas logo vem o povo para uma nova censura. Aquele que não entende uma piada é alvo de um julgamento de rede social por não entender a cultura da zoeira de um povo cuja a maior capacidade é ficar censurando o próximo.

Enfim, isso é uma chatice….

Humor de Checkpoint Charlie

Ontem, a bolha da internet brasileira comentou a rusga entre um comediante e uma celebridade. Me ausentei da discussão porque não me interessava por ser uma futilidade. Então, vem os longos debates sobre o humor que acontecem desde 2011. Logo entendi que aquilo não valia a pena porque os brasileiros são autoritários por natureza por não conseguir rir de si mesmos no afã de tirar sarro dos outros.

Os comediantes brasileiros tentam adaptar o modelo americano de ética protestante para um país de formação católica-pentecostal como o Brasil de hoje. Além do fato da população não dominar a interpretação de texto e conceitos como sarcasmos e ironia para entender uma piada. Vemos isso todos os dias nas redes sociais onde os linchamentos virtuais se fazem presentes por uma necessidade de demonstração de uma virtude com fins hipócritas.

Isso me motiva a desprezar a produção intelectual brasileira por conhecer o humor de outras nações como Reino Unido e Alemanha. Sem contar que me sinto identificado com este tipo de piada por falar dos assuntos relevantes do momento sem tratar o público como idiotas como é feito em nossa nação de incompetentes. Mas não renego as minhas origens por ter visto muito as piadas da tv aberta nos tempos em que eu não tinha internet ou tv a cabo.

Ultimamente, o humor brasileiro está criando uma nova leva de celebridades aptas para participar de reality shows diante do esvaziamento profissional devido a pandemia e uma nova onda de podcasts de Youtube. Sem levar em conta as críticas internas entre os humoristas e comediantes por causa de uma necessidade de terem chances para fazer uma campanha publicitária que dá mais lucro do que um show em um bar.

Ou seja, prefiro fazer piadas sobre o Checkpoint Charlie do que discutir rusgas fúteis.