Escoceses esquecerem o senso de humor

Hoje, os escoceses estão sendo consultados sobre a nova lei de crimes de ódio que pode afetar o senso de humor escocês. Tudo porque estará proibido fazer troças contra tudo e todos. O arcabouço jurídico tem tido apoio de Holyrood comandado pelos nacionalistas, mas encontra resistência na população por causa do cerceamento da liberdade de expressão.

Os escoceses estão preocupados com isso por causa das opiniões sinceras e controversas da escritora JK Rowling sobre as pessoas trans. Tanto que os livros da saga Harry Potter e dos animais fantásticos tiveram uma queda nas vendas. Sem contar que lidamos com uma era de cultura de cancelamento no mundo contemporâneo que não aceitam as imperfeições humanas.

A lei escocesa poderá enfrentar os tribunais de Edinburgh, Mas terá resistência na população sobre o fato do humor escocês sempre tirar sarro de outras nações britânicas como irlandeses, ingleses e galeses. Não entendo porque criar uma legislação contra crimes de ódio que cerceia a liberdade individual de falarmos o que der na telha no mundo contemporâneo.

A questão escocesa poderá ser mais uma guerra de trincheira entre Londres e Edimburgo na questão da transferência de poderes junto com o fato que a primeira-ministra da terra kilt Nicola Sturgeon não nutrir simpatias com o chefe de governo britânico Boris Johnson diante de problemas como o Brexit e um futuro acordo diplomático entre Londres e Bruxelas.

Enfim, teremos um longo pepino onde a nova lei de crimes de ódio escocesa passará por um amplo debate tanto no parlamento quanto na justiça. Isso mostra que a liberdade de expressão não é muito apreciada nos highlands da Escócia. Enfim, é esperar para ver o que isso irá dar.

A despedida de Salmond

Sempre que alguém se despede de sua área de atuação. Uma festa é feita e tal pessoa faz um discurso de despedida onde sempre lembra daqueles que o ajudaram durante toda a sua carreira. O first-minister escocês Alex Salmond fez isso hoje durante a conferência do SNP, o partido nacionalista escocês. Ele havia prometido deixar a política antes do resultado do referendo da independência de 18 de setembro. Tanto que anunciou o nome da vice-líder Nicola Sturgeon como nova premiê.

O seu discurso de despedida, Salmond enalteceu os companheiros de partido como o secretário de finanças, John Sweeney e Nicola Sturgeon e disse que a Escócia irá se tornar um país independente. Ele afirmou que seu partido respeita o resultado do referendo onde 55% dos escoceses disseram não a independência. O first-minister questionou a atuação dos conservadores e trabalhistas durante o processo que negocia a transferência de poderes de Westminster para Holyrood.

As palavras de Salmond demonstra que os escoceses desejam ter o direito de ser respeitado. Um discurso que reforça o coro dos partidos nacionalistas como Plaid Cymru, de País de Gales e o partido Verde, que discutem uma aliança para as eleições gerais de maio de 2015. A descrença da população britânica na coalizão Tory-LibDem e a impopularidade do líder trabalhista Ed Miliband reforçam as projeções que nenhum dos três grandes grupos de Westminster terá a Overall Majority, ou seja a maioria clara para governar o país.

A ascensão de partidos como o eurocético UKIP e o nacionalista SNP mostra que Trabalhistas, Liberais-Democratas e Conservadores terão um trabalho difícil pela frente. Salmond prometeu eleger MPs escoceses no parlamento britânico. Isso pode causar dores de cabeça para Ed Miliband e David Cameron. O first-minister ainda fez a promessa de evitar a privatização do sistema de sáude publica local, o NHS Scotland, algo que vem sendo discutido pelos tories.

Em um momento de sua despedida da arena política, Salmond fez um discurso em que reforça a independência, mas promete vigor na cobrança das promessas feitas pelos unionistas durante a discussão do referendo. Os escoceses querem uma Escócia melhor. Mas isso exige uma ampla reflexão que o SNP deve fazer ao confirmar o nome de Nicola Sturgeon como próxima first-minister nos próximos dias. Este é apenas um desafio para o futuro do nacionalismo escocês sem Alex Salmond.

 

 

2 anos escoceses

Quando se começa a trabalhar em uma cobertura de um evento histórico. Precisa-se de planejamento e muitas ideias para se contar as histórias, fazer análises além de montar uma estrutura técnica para te dar um suporte em um acontecimento como esse. Isso aconteceu com o referendo da independência da Escócia. Para que esse momento histórico fosse contado de uma maneira simples, informativa e única. Este que vos posta passou dois anos afinando o piano para fazer um amplo relato sobre os fatos ocorridos no dia de ontem e hoje.

Tudo isso começou em um domingo a noite em janeiro de 2012. Eu estava passando o tempo antes de ver o Newsday, da BBC World News. Entrei no site da BBC e vi um video de uma entrevista do primeiro-ministro britânico David Cameron ao programa The Andrew Marr Show, da BBC One. Em um momento, Cameron defendeu a realização de um referendo para decidir se a Escócia se torne um país independente. Assim encerrando uma união de mais de 300 anos de história e divergências.

Aquilo ficou em minha cabeça. Então avisei dois amigos sobre isso. O meu velho amigo Maurício e minha fonte oficial anônima (ela é uma amiga que quer se preservar a sua identidade) sobre o fato escocês. Nos dias seguintes, não vi nenhuma repercussão na imprensa brasileira. Mas a midia internacional estava atenta. Tanto que Cameron foi a região para tratar dos termos do referendo. Eu publiquei um post no serviço em inglês do Homo Causticus, o HC World Service, sobre tal encontro do primeiro-ministro com o lider nacionalista Alex Salmond.

Isso agradou uma leitora britânica, que republicou o meu post no blog dela. Então, iniciei a cobertura do referendo escocês desde de 2012. Quando havia uma notícia relevante sobre a votação publicava no HC World Service. Em outubro de 2012, logo nos primeiros dias que comecei a ver a BBC News, o âncora do BBC News At Ten, Huw Edwards foi para a Escócia para cobrir o acordo que permitiu o referendo. Foi a primeira vez que vi o editor de política escocesa da BBC, Brian Taylor (que entende como poucos a política local)

Apartir disso, comecei a postar notícias sobre política britânica e acompanhar de perto os dois anos de campanha. Este trabalho mudou a minha vida pelo fato neste meio tempo, eu fiz coberturas importantes como as eleições em várias partes do mundo. Em 2014, o Homo Causticus entra na cobertura com textos analisando os principais fatos do periodo eleitoral escocês. Nossa empreitada foi interessante pelo fato de acompanhar o fato desde do começo da jornada. Estes foram os dois anos escoceses de minha vida.

Stay in the union

Após mais de 2 anos de campanha, o não venceu o referendo sobre a independência da Escócia. A opção de continuar como parte do Reino Unido tem criado uma incompreensão daqueles que tem noção um pouco de história britânica, onde o território escocês sempre lutou contra o domínio de Londres desde dos tempos de William Walace, que foi interpretado por Mel Gibson no filme Coração Valente. Para os nacionalistas, isto foi uma ducha de água fria e uma eterna dor de consciência por ter perdido uma oportunidade histórica.

Agora, os unionistas que triunfaram nesta votação terão que cumprir a promessa de mais poderes para o Holyrood (sede do parlamento escocês). A vitória do não se deve ao esforço de última hora do ex-premiê britânico Gordon Brown que conseguiu arrancar um acordo entre os três partidos unionistas como os Trabahistas, Conservadores e Liberais-Democratas em torno desse acordo. Isto mostra a força de um ex-primeiro ministro que viveu a decadência mas que ascendeu com uma esperança como Brown.

O primeiro-ministro David Cameron afirmou que irá cumprir as promessas de campanha com o envio de uma lei dando autonomia para Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales em novembro. O First Minister escocês Alex Salmond pediu a unidade aos escoceses e disse que irá exigir que tais compromissos seja cumpridos. Os ingleses querem a criação de um parlamento próprio. Anseio ouvido pelo vice-premiê Nick Clegg que afirma que tal pedido irá ser atendido em uma vitória liberal-democrata em 2015.

Neste momento, o Reino Unido foi preservado. A vitória do não surpreendeu o mais otimista dos escoceses nacionalistas que previam uma virada do sim nas grandes cidades como Glasgow e Edimburgo. Só resta o nacionalismo escocês engolir mais uma derrota em sua história. Não se sabe se o partido nacionalista SNP poderá voltar ao poder em Holyrood nas próximas eleições locais ou se Salmond continua lider do mesmo ou entrega a liderança a sua fiel escudeira e vice-lider Nicola Sturgeon.

Agora é uma hora para olhar para a frente. Isto vai exigir um amplo bom senso de ambos os lados. As promessas terão que ser cumpridas como forma de respeitar a vontade popular. Não sabemos se o SNP pode perder a maioria em Holyrood ou se os conservadores estarão no poder após as eleições gerais de maio de 2015. Este é um momento onde o escocês quer ser ouvido para ter um futuro melhor. Mas para isso acontecer, a população precisa está atenta e fiscalizar o cumprimento de tais compromissos.

A batalha da Escócia

Daqui a uma semana, os escoceses irão as urnas para decidir se o território britânico pode ser um país independente. A discussão toma corpo nas ruas, pubs e casas em torno do futuro escocês. A batalha da Escócia ocorre de maneira tranquila mesmo com promessas de maior autonomia para Holyrood (sede do parlamento local) por parte dos unionistas ou a emancipação completa do domínio britânico prometida pelos nacionalistas. Isso é um momento histórico para a população escocesa.

Os indecisos serão o fator chave para a vitória dos nacionalistas ou unionistas dado o fato que as pesquisas de opinião indicam uma ligeira vantagem para o não, mas isso pode ser revertido pelo sim. As sondagens que serão publicadas nos próximos dias irão mostrar um cenário incerto. O anúncio de que os bancos britânicos Lloyds, RBS e TBS poderão se mudar da Escócia para Londres assustou os mercados. Tanto que o first minister Alex Salmond pediu uma investigação para descobrir como uma informação privilegiada foi vazada para a imprensa.

As recentes visitas do primeiro-ministro David Cameron (Conservador), do líder da oposição Ed Miliband (Trabalhista) e do vice-premiê Nick Clegg (Liberal-Democrata) para a região pode ter fornecido apoio para os unioinstas. Isto pode ser revertido com o efeito colateral da visita do eurocetico Nigel Farage (UKIP), que tem uma ampla rejeição no território escocês. O esforço unionista para manter a Escócia no Reino Unido pode ser devastado por uma gafe faragiana de proporções épicas.

Para os três grandes partidos de Westminster podem ser traumatizados em caso de uma independência escocesa. Os trabalhistas perderão o seu reduto leal desde do nascimento do movimento sindical no século 19. Os conservadores não querem ficar manchados na história por perder um território tão importante, mas os escoceses rejeitam os tories tanto que a piada que se tem mais pandas do que parlamentares tory é uma constante. Os liberais-democratas estão preocupados com o fato da perda de apoio em um momento de declínio como o atual.

Os nacionalistas tentam dissipar a desconfiança. Tanto que apela para o voto feminino e dos jovens como forma de mostrar um futuro prospero em um país independente mesmo com as advertências das redes varejistas como Asda e John Lewis de que os preços de seus produtos irão aumentar caso a região se emancipe do Reino Unido. A batalha pela Escócia ainda tem muitos confrontos até a próxima quinta-feira, dia tão aguardado pela população escocesa nos últimos 300 anos.