Meus pais entre a F1 e a Playboy

Em 2005, minha mãe não me deixou ir em um festa do instituto. Ela estava insegura em relação a mim em um ambiente de balada. Nós choramos na conversa e ela propôs que eu fosse sair com o meu pai na manhã seguinte. Meu pai cuidava de mecânica elétrica na sua oficina e tinha que ir para um porto de areia em Tremembé pra fazer reparos em uma máquina.

Quando fomos almoçar em um restaurante de comida italiana. Eu lhe contei um causo onde o presidente americano Ronald Reagan foi ao hospital em Washington após sofrer um atentado em 1981. Ao ir a sala de operações; ele perguntou se os cirurgiões eram republicanos. Meu pai riu disso e me falou sobre humor entre pai e filho rindo por ter comprado uma playboy pra mim.

Meus pais nunca nutriam expectativas sobre mim. Mas ficavam orgulhosos de mim por ser eu mesmo. Eu falando com eles sobre Formula 1 era uma coisa tão trivial para mim porque a minha mãe era fã de Gilles Villeneuve enquanto meu pai falava de Niki Lauda. Mas o meu herói era Stirling Moss por causa do senso de humor junto com Tony Brooks que descobri na pior fase das provocações onde não levava revistas para o Educere.

Hoje, eu vejo os meus colegas de educere que já são pais nutrindo expectativas sobre os filhos e se esquecem do primordial: deixa eles viverem… Meus pais não tinham como pagar um curso de inglês devido aos custos da minha psicóloga que o Educere indicava por causa do autismo. Mas lembro da minha mãe indo a banca pra comprar uma edição especial da quatro rodas e meu pai me levando para a livraria.

Meu pai sempre ria quando falávamos sobre Playboy enquanto a minha mãe falava com gosto sobre o meu gosto pela criação do Hugh Hefner……

Dois jovens amigos

Eu tenho 34 anos e convivo com pessoas mais jovens do que este que vos posta. Já tive que lidar com um amigo desorganizado que me deixava irritado. Logo entendia aquilo como uma questão da idade por querer mostrar serviço mesmo não tendo competência para tal. Mas tenho surpresas como dois amigos que trabalham duro e são competentes e tem um futuro pela frente pelo qual não vislumbro por estar velho para tal.

Eles gostam de esporte a motor e são entrosados. Logo entendo como um jovem tem uma necessidade de mostrar serviço no seu devido tempo. Eles me lembram as duplas de pilotos onde o chefe de equipe mostra o caminho para trazer os carros pra casa como acontecia na McLaren onde Ron Dennis lidava com as rivalidades entre Senna e Prost e a amizade de Jenson Button e Lewis Hamilton mesmo com os dissabores com os motores Mercedes.

A idade lhe dá uma maturidade. Eu tenho uma amiga mais jovem que gosta de Formula 1. Ela está trabalhando em um canal do Tiktok que criou pra falar sobre as corridas e os aspectos técnicos. Eu tinha uma birra com os emojis por serem mal usados por jovens. Mas ela sabe escrever e usar tais figurinhas com uma delicadeza. Ela terá futuro pra falar dos carros e mais talento do que eu por descrever pistas e motores.

Lembro de uma amiga goiana que torce pela Ferrari. Ela soltava os cachorros contra o Mattia Binotto em seu tempo como chefe de equipe de Maranello. Ela é mais jovem do que eu. Sua rotina de trabalho é maçante e vê as corridas no domingo com uma torcedora. Ela usava o Twitter e nós lá conversando nas DMs. Eu ficava acalmando ela como se fosse a cena do debate entreturnos entre Sarkozy e Royal nas eleições de 2007.

Quando Goethe escreveu sobre Fausto e seu pacto para se tornar mais jovem. Anos depois, Oscar Wilde escreve o Retrato de Dorian Gray por causa da necessidade da juventude. Isso me pensa sobre a minha idade. Eu tinha que conversar com o meu pai sobre Formula 1 porque meus amigos não tinham interesse em assistir corridas. Eu era o único que comprava um especial da quatro rodas em 2003 sem que eles saberem. Afinal, eu era jovem na época.

O mundo da Formula 1 segundo um autista…

Estava comentando sobre o meu cancelamento no mundo da F1tt br por ter sido rude com uma mulher em um podcast onde eu era membro. Um amigo meu revelou que ir me defender, mas pensou que seria cancelado por argumentar sobre o meu autismo e por eu ser esquizofrênico. Logo entendi tão complicado as pessoas tomaram posições em sua defesa por causa das represálias por ter uma opinião diferente.

Não me preocupei com isso na hora porque ele sempre segurou a minha barra naqueles momentos. Mas percebo que as pessoas me viam como um coitado. Eu sou autista e aspie. Logo não pedimos pena aos outros. Em 2020, não se discutia isso nas redes sociais. Quando as pessoas do espectro começaram a falar por si mesmas sem ter o fantasma da patrulha da correção moral ou intelectual. Começamos a ter liberdade para questionar.

Eu sai da F1tt br por não me sentir incluído em um ambiente onde as pessoas procuram atenção para trabalhar com a Formula 1. Logo percebi as desilusões de amigos meus comentavam sobre a rede social e seu lado tóxico. Para mim, estava claro que não teria futuro em tal ambiente após ter sido cancelado. Fui procurar um outro mercado para trabalhar e conviver com o esporte. Fui aceito no meio britânico por comentar as coisas em inglês

Percebi que o mercado brasileiro é muito pequeno e pouco lucrativo por não termos consumidores da Formula 1. No meu caso, eu leio mais a Motorsport britânica e a Auto Motor und Sport alemã do que um site brasileiro. O meu interesse especial por F1 por causa do autismo não tirou o brilho dos meus olhos por ficar escrevendo e testando novas ideias pra blogs e escrita. Isso ajuda naqueles momentos onde temos as portas fechadas.

O pessoal da F1tt br não me acolheu. Eu tenho que conquistar o meu lugar ao sol por meio de um espaço próprio como falava o meu pai. Percebo que as pessoas tentam de várias formas almejar uma posição de destaque. Para mim, não me faz diferença por que fico na minha cuidando da vida em uma cidade do interior. Não me interesso por estar em um evento ou ficar em uma pista. Gosto de ver corridas e falar com uns amigos sobre isso. Isso é tudo para mim.

Idas e vindas em New York

Quando lia a quatro rodas nos anos 2000. Surgia uma discussão sobre as equipes de fábrica tendo um grande espaço na Formula 1. Mas com a crise de 2008. Os garagistas se manterão com os motores preparados pela Cosworth que usava peças da Ford. Hoje, a Ford anunciou a sua volta a F1 por meio de um acordo de 4 temporadas (2026 a 2030) com a Red Bull para fornecer motores. O anúncio foi feito em Nova York. São as idas e vindas…..

Minha mãe me pergunta sobre Hamilton

O piloto da Mercedes Lewis Hamilton no GP de Miami de 2022. Fonte: BBC Sports. Agência: Getty Images,

Minha mãe sempre acompanhou a Formula 1. Nessa semana, ela me perguntou porque o Lewis Hamilton parou de vencer corridas porque fazia dois anos que ela não via uma corrida com a mudança de emissora detentora de direitos de transmitir a categoria. Eu expliquei que Max Verstappen era bicampeão mundial e ela ficou espantada por ficar tanto tempo sem ver uma prova porque na hora, ela arruma o almoço aqui em casa no domingo de F1.

Quando ela era jovem nos anos 1980. Ela era fã de Gilles Villeneuve. Na década de 80, a Formula 1 começou a ser transmitida ao vivo e na integra com a evolução dos satélites e dos sistema de comunicação. Ela viu a era Senna assistindo as corridas na Rede Globo apesar de não aguentar o Galvão Bueno. Ela nunca gostou de coisas onde tinha uma vulgarização do popular com os mantras sobre um piloto.

Em 2019, ela ficou irritada com o Verstappen por causa de ter jogado o Leclerc pra fora durante o GP da Áustria daquela temporada. Ela passou a torcer por Leclerc. Ela estava muito ocupada enquanto eu trabalhava como comentarista junto com o fato de ter perdido a noção de tempo devido a pandemia por ficar muito tempo em casa. Ela sempre gostou de Formula 1 por ser um escapismo aos problemas que enfrentava como a questão do meu autismo.

Nos anos 1990, minha mãe torceu para Jacques Villeneuve na disputa contra Michael Schumacher no título de 1997. Quando eu era criança, ela sempre me ajudava a acompanhar as corridas. Quando uma tia minha me deu uma assinatura da Quatro Rodas após saber que eu e ela íamos comprar a revista no caminho da consulta com uma psicóloga. A QR sempre publicava um guia especial sobre a categoria no mês de março.

Hoje, eu trabalho com a Formula 1 por ser redator do assunto. Quando acordei. Ela me perguntou porque Hamilton parou de vencer as corridas. Eu expliquei a situação do carro da Mercedes foi mal projetado e que Verstappen estava com um bom bólido para a Formula 1. Ela foi deitar enquanto eu vim para o escritório para poder escrever sobre tal assunto. Pelo jeito, ela vai voltar a ver uma corrida assim que tiver um tempo.