As memórias de Yitzak Rabin

Em 4 de novembro de 1995, o então primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin foi morto por um extremista em um comício onde defendia os acordos de paz com os palestinos. Ele sofria a oposição do então líder do Likud, Binyamin Netanyahu. A reconstituição daqueles dias é feita no mais recente filme do cineasta Amos Gitai que foi lançado em 2015 e só agora chega aos cinemas brasileiros justo no momento dos ataques de 7 de outubro.

Rabin foi premiê em momentos importantes na história de Israel como na operação Thunderbolt, onde os comandos israelenses resgataram os passageiros do voo da air france no aeroporto de Entebbe em 4 de julho de 1976. A incursão só foi aprovada por ele após ter certezas sobre as informações em relação aos reféns e tendo como um aliado o ministro de defesa e falcão de assuntos internos como Shimon Peres e os militares.

Após ficar um bom tempo fora do gabinete e ser chamado para o cargo de ministro de defesa na primeira intifada entre 1987 a 1991 onde ficou conhecido como quebra-ossos por exigir punições duras contra os prisioneiros palestinos. Ele volta ao cargo junto com Peres para dar apoio aos acordos de Oslo que eram negociados de forma secreta e com a mediação do governo americano com Bill Clinton na Casa Branca.

Isso rendeu um prêmio Nobel da Paz junto com o líder palestino Yasser Arafat em 1993. Mas Rabin era recluso e não tinha a eloquência de Peres. Porém, era um astuto operador político obstinado em fazer a paz entre os vizinhos de Israel como no acordo de paz com a Jordânia em 1994 com o rei Hussein que sempre foi um aliado dos Estados Unidos e lidava com a questão da Palestina por ter enfrentado a OLP em 1970 no setembro negro.

Se Rabin não fosse assassinado. Teríamos a paz no Oriente Médio e sem Netanyahu com sua necessidade de não ter um estado palestino. Porém, ainda temos figuras como o líder trabalhista e ex-premiê Ehud Barak que foi apeado do poder em 2000 na segunda intifada quando o Ariel Sharon visitou a esplanada das mesquitas para a revolta da população muçulmana. Amos Gitai responde as tais indagações com um filme……

O caderno de cultura

Quando eu estudava informática no curso técnico do instituto em 2008. Eu tinha o hábito de passar na fatec para ler a Folha. Eu lia a ilustrada por causa dos artigos do saudoso Contardo Caligaris. Pois bem, eu não ligava para as críticas publicadas no jornal. Pois bem, eu trabalho com cultura e mundo geek. Fico lendo os jornais e me deparo com o meu amigo da ECA da USP soltando os cachorros pra cima do Caderno 2 do Estadão por uma paulada em cima do cantor Jão.

Eu não conheço a música brasileira que o pessoal da USP escuta. Tanto que fiz uma abertura no Brooklands a Indianapolis onde tirei sarro disso. Lurrinha, meu grande amigo, me falou do assunto por estar mais antenado do que eu nesse assunto. Isso me lembrou dos tempos que eu comprava a Rolling Stone por justamente…ler sobre as minhas bandas de rock e dar aquela bela ignorada na produção nacional de fundo cultural.

Outro dia, estava no Twitter quando um jornalista elogiava justamente o Caderno 2 por causa do processo de modernização. Fui dar uma olhada e vi matérias sobre música. Porém, nada de novo no front ocidental. A paulada no Jão mostra que a mudança de rota incomodou o meu amigo da ECA da USP pelo fato de criticar um cantor que não está no radar da grande mídia. Isso não me surpreende por ser um leitor do assunto.

Eu escuto o U2. Lembro de um conhecido de idade avançada com ares joviais descendo a lenha na banda irlandesa no Twitter. Eu não liguei. Tempos antes, eu falei de bandas australianas. Ele quis tirar sarro de mim. Postou um vídeo de um grupo que considerava ruim. Eu respondi que a música em questão tratava de um mundo pós-apocalipse e uma crítica a sociedade contemporânea. Depois do argumento, ele me fala que joguei sujo.

Os jornais precisam de leitores jovens como a Rolling Stone fez na minha geração. Porém, o jovem adulto está cansado da terceira idade da juventude que são os jornalistas forjados pela Bizz dos anos 1980 onde desciam a lenha no rock nacional. Só digo que um pouco mais de fios brancos no couro cabeludo não faz mal a mente do ficar posando de eterno jovem que escuta uma das vários rádios da BBC para ser um descolado de sempre.

Não reinventamos a roda, só aperfeiçoamos

A crônica de humor começou com as opiniões do João do Rio nos anos 1920. Então, a revista O Cruzeiro teve um certo Millor Fernandes para fazer uma coluna de duas páginas de comédia. Mas Millor estava cansado de ter um patrão e chamou seus colegas para fundar o Pasquim com suas tiradas em plena ditadura militar. Os egressos do jornal foram para outras redações e isso permitiu a figura de José Simão com sua coluna na Folha de S. Paulo publicada até hoje.

O formato talk show nos Estados Unidos começou com Jack Parr. Mas ele pediu as contas da NBC em 1962. Então, Johnny Carson assumiu o Tonight Show. Um dos redatores era Dick Caveat, que foi convidado pela ABC para ter o seu próprio programa onde entrevistava as personalidades americanas em um momento como a Guerra do Vietnã e o escândalo Watergate. Porém, David Letterman surgiu ao assumir o horário da 00:30 com um humor subversivo.

O humor britânico teve como figura central a BBC. O Monty Python começou o Flying Circus diante da necessidade de fazer piadas com o nada diante dos memorandos com proibições internas de Fleet Street. Em 1979, surge o Not the nine o’clock news com a sátira do noticiário. Ao mesmo tempo, uma cena alternativa floresceu com o Young Ones escrito por Rik Mayall e Ben Elton com uma estética que rompia com o Python.

Nos Estados Unidos, o Saturday Night Live surge em 1975 fazendo piadas de meio mundo por meio do Weekend Update apresentado por Chevy Chase. Ao mesmo tempo, alunos de Havard lançam a revista national lampoon. Com o surgimento da TV a cabo permitiu a criação da MTV com os desenhos para o público jovem como Beavis e Butt Head. O Comedy Central então cria o Daily Show com as piadas sobre o noticiário.

Em 1953, Hugh Hefner cria a Playboy tendo como pilar bons textos. O que seria uma revista masculina passou ser uma ponta de lança para o jornalismo alternativo que viria ser abraçado pela Rolling Stone em 1967 na esteira da guerra do Vietnã e da cena cultural americana. Mas o underground seria integrado em 1994 com a criação da Vice com suas pautas alternativas com textos bem escritos para um novo público.

Pessoal, não precisa reinventar a roda ou copiar algo. Só basta aperfeiçoar as suas ideias, conceitos e criações….

As palavras aposentadas pelos novos tempos

O recente debate onde o destricampeão mundial de formula 1 citou um piloto de forma pejorativa mostra que as palavras estão sendo aposentadas pelo fardo de carregar um passado histórico controverso e cuja a perpetuação de velhos modos continua em nossa sociedade mesmo que não tenhamos o devido processo de mudar o status quo diante de tantas mudanças no nosso tempo contemporâneo.

Lembro de uma amiga domme ter me explicado a origem de um termo para mulheres cuja a origem escravocrata era deixada de escanteio para designar mulheres bonitas de pele morena. Logo entendemos porque o longo debate sobre a palavra usada pelo destricampeão para se referir a um colega de corrida de forma pejorativa porque ele não poderia dividir uma curva junto com o atual namorado de sua filha que ganhou o campeonato de 2021.

Vários termos caem em desuso tanto pela prática quanto pelo peso histórico. Isso é uma forma de terraplanagem linguística como foi definido pelo jornalista especializado em linguagem Sergio Rodrigues em sua coluna semanal no caderno cotidiano, do jornal Folha de S. Paulo. As futuras gerações terão que aprender a lidar com uma realidade tão complicada por causa de um não-debate sobre o nosso passado escravocrata.

Em 2013, o diretor americano Quentin Tarantino foi criticado pelo movimento negro nos Estados Unidos pelo uso do termo N… no filme Django Livre. Isso lhe rendeu duras críticas de Spike Lee junto com uma defesa de Samuel L. Jackson. Lee e Jackson são amigos e tiveram uma crise pública nos anos 1990 cuja a amizade foi estremecida. Porém, isso foi recuperado por suas respectivas esposas que continuaram a ser amigas nos jantares.

Logo entendo que tal debate deve começar a rapidamente. Mas os tempos onde podíamos sentar a mesa pra falarmos de temas espinhosos nas últimas semanas não tem permitido isso.

As entrelinhas da escrita

Os tempos estão áridos no mundo. As pessoas não aceitam opiniões controversas como uma forma de criar tabus para que assuntos importantes não possam ser discutidos no debate público por temerem represálias de ambientes políticos ou de um meio profissional. Ou seja, um escritor pode virar um operário se estiver desgostoso do mundo tão autoritário e sem o amparo de seus pares de escrita na luta por liberdade.

Em 1975, a Folha de S. Paulo inicia seu processo de modernização editorial com a contratação de figuras importantes da imprensa como Carlos Lacerda, Samuel Wainer, Paulo Francis e Claudio Abramo. No caso de Abramo, ele liderava a redação do jornal do Seu Frias, criando espaço para debates públicos em um momento onde os militares não tinham paciência para a democracia tão almejada por figuras como Millor Fernandes e Mino Carta.

Em 1977, o escritor tcheco Vaclav Havel lança a carta 77. Um manifesto intelectual onde os escritores da antiga Tchecoslováquia pediam o respeito aos direitos humanos. O trabalho como dramaturgo era tolhido. Então, Havel virou um escritor de rock n’ roll que escrevia sobre as bandas de rock no país em plena ditadura comunista como a banda underground The Plastic People of Universe, motivo de censura naquele momento.

As crônicas políticas de Abramo e os ensaios de Havel foram uma forma de criar brechas de liberdade em momentos de tensão autoritário. Sem contar a censura moral que sofrerão a revista Playboy nos anos 1970 no Brasil dos filmes de pornochanchadas ao mesmo tempo que a Espanha tinha suas comédias eróticas nos estertores do franquismo. Isso em um contexto de amplo jogo de gato e rato em nações como Estados Unidos e Alemanha Ocidental nas produções culturais.

A liberdade precisa ser preservada nas entrelinhas da escrita. Mas não falam para um agente da SNI disfarçado de fã incondicional de Geraldo Vandré…