Autista no mundo

Eu sempre estou conversando com os meus amigos anglo-saxões na minha nova conta no Twitter. Eles me conhecem de outros carnavais por causa do senso de humor. Isso me lembra dos tempos do instituto onde eu tinha várias tiradas mesmo não lendo as colunas do José Simão ou visitando os sites de charges no laboratório de informática. Foi assim que moldei um senso de sarcasmo para um autista desconhecido como eu.

Eu ficava no canto da portaria para ler o meu livro. Logo eu tinha uma conversa com o Alberto, o meu amigo inspetor de alunos que estava estudando teologia. Ele tinha uma piada interna comigo ao me ver com uma garota em frente ao seu posto. Ao mesmo tempo, ele me ajudou sobre o meu senso de isolamento.

Nos últimos dias do ano letivo. Eu estava sentado em um dos bancos esperando o Rodolfo chegar para poder imprimir textos usando os computadores da Fatec por que o Alexandre tinha me emprestado a senha do UOL para a seção Mídia Global. Alberto me viu e me contou a história de um frade que estava olhando para uma pedra. Os noviços estavam curiosos com tal hábito. Então, quando perguntado sobre o que estava fazendo. Ele respondeu: estou aprendendo com a pedra.

No autismo, nós temos os nosso hiperfocos e interesses especiais. Isso me uma sociedade onde as pessoas querem ter explicações para suas indagações e se associam a diagnósticos de rede social porque acha que uma consulta com um neuropsicólogo é muito cara e não é coberta pelo plano de saúde. Eu lembro nas idas e vindas com as psicólogas onde os meus pais me entendiam mesmo com tantos problemas.

Aprender com a pedra na analogia de Alberto me fez entender o mundo. O senso de humor me ajudou porque eu tinha uma liberdade para rir de mim mesmo onde podia questionar a humanidade com a tirada dita por mim.

Isso é senso de humor de um autista…

Meus tempos com neurotípicos

Em 2014, eu estava com os meus amigos de teoria junguiana. Eles queriam ter um senso de comunidade por sofrerem com as suas particularidades como não se enturmar com o mundo. Logo nos víamos com um porto seguro diante de tantos problemas em nossa volta. Isso só durou um verão e foi muito bem porque as gerações posteriores gostavam de mostrar um glamour de serem estranhos invés de um ajudar o outro.

Eu não consegui manter as amizades por perdemos o contato. Mas eu os tenho como meus amigos em meu coração de bonde. Era um senso de comunidade por que um ajudava o outro. O pessoal do MBTI com quem convivi era mais abertos e menos criteriosos em ficar padronizando a humanidade. Nós tínhamos um senso de ficarmos conversando sobre nossas vidas e afins onde podíamos nos sentir inclusos.

Hoje, as pessoas se autodiagnosticam com autismo por causa de ser um hype como se diz atualmente. Logo pra mim que sou autista diagnosticado na primeira infância por causa de problemas de fala e ter frequentado a Apae para fazer o meu tratamento. Muitas pessoas não sabem com os perrengues onde eu tinha muitos problemas por ter convivido em uma escola particular onde não tinha um amparo dos meus coleguinhas.

Eu me sinto bem por causa de não ter tantos traumas mesmo com as cicatrizes mentais em minha mente e nas minhas memórias. Porém, eu sei que as pessoas lidam com uma necessidade de se encaixar em diferentes grupos sociais por causa da busca do senso de comunidade onde perdemos diante da ascensão da comunicação digital como uma rede social onde podemos desabafar sobre as nossas vidas a esmo.

Eu tenho uma amiga com autismo que reclama dos estereótipos tão difundidos sobre o autismo e os neurotípicos. As pessoas confundem o hiperfoco com os interesses especiais. Isso não permite uma compreensão sobre nós mesmos. Então, só me resta as lembranças dos meus amigos de teoria junguiana.

Não tenho o glamour de ser autista

Eu conheci uma psicóloga no Threads que tem discutido o autismo diante do hype sobre o assunto por causa dos novos estudos relacionados a condição neurológica. Nas redes sociais, muita gente quer se identificar como autistas por causa da inteligência aguçada e por serem introspectivos se esquecendo da dificuldade para se relacionar com as pessoas e os problemas relacionados a alimentação e interação social.

Pode soar contraditório vindo de mim por lembrar das minhas histórias no Educere onde passei por maus bocados por ser diferente pelos meus coleguinhas de nomes bíblicos. Na verdade, eu tinha que passar uma tarde com a minha psicóloga invés de estar estudando espanhol ou jogar basquete como eu queria naquela época, mas as condições financeiras não me permitiam isso por termos o foco nos meus tratamentos.

Eu me lembro da vez que fui fazer um trabalho de história onde fiquei no Educere a tarde. Quando estava lendo o livro e ter desejado boa sorte para um professor. A diretora me mandou pra fora para acompanhar os jogos interclasse onde a minha turma não tinha muita chance devido ao déficit com a bola nos pés. Eu estava querendo ficar um tempo só que acontecia no intervalo onde podia pensar em paz.

Uma vez que fui levar um trabalho que tinha feito por ter ficado a tarde no Educere. Era um desenho sobre um quadro de Candido Portinari. Ao terminá-lo, eu fui a sede da nova escola para entregar. A diretora que era a minha professora de artes me chamou para uma conversa. Invés de uma reprimenda. Ela se tratou comigo como uma pessoa que sofreu naqueles anos procurando um rumo na minha vida e deixou aberto a possibilidade de vir ao educere para poder conversar se fosse necessário.

O autismo não tem um glamour por ter lidado com muitas desavenças em busca de um rumo na minha vida. Mas nos permite termos um lugar ao mundo por causa das nossas necessidades junto com a habilidade de fazermos pontes com diferentes mundos. No Instituto em 2004, fiquei feliz por não ter os coleguinhas do Educere me provocando e ter uma liberdade para falar com as pessoas. Eles não sabiam que eu era autista e nem eu.

Os autistas do passado

Eu tenho uma amiga autista cujo o diagnóstico foi dado na vida adulta. Ela sofreu com o bullying na infância por ser diferente. Isso me lembra os meus problemas com os meus colegas do educere porque era a criança mais amada pelos pais deles por ter um pensamento mais adulto. Mas hoje, vários adultos autistas estão desenterrando as suas memórias sobre a incompreensão que sofriam durante a infância por ficarmos entre nós.

No Educere, eu não podia perder o brilho nos olhos na minha infância por mais que o mundo fosse cruel comigo. Lembro das vezes que a minha mãe me via chorando por causa do stress da escola como na vez do meu aniversário de 12 anos em 2000 onde os meus colegas me torraram a paciência porque eu não fazia uma festa de aniversário na minha casa. Minha família não tinha condições naquele momento e fiquei nervoso.

Então, o grande tio Ademir conversou comigo para me tranquilizar. Meus tios como César, Edézio e Ademir me entendiam por ser diferente junto com o meu primo Guilherme. Minha mãe teve uma sacada ao pedir para que me liberassem mais cedo da escola no dia do meu aniversário. Meu pai foi me buscar no Educere e fui pra casa. Ela foi me levar a Ida, que era a minha psicóloga e uma grande amiga mais velha. Nisso, consegui comprar uma miniatura.

Muitos autistas sofreram nas mãos dos normies e nos pais de tais crianças que pensavam que eram uns santinhos. Porém, o constrangimento era maior pra eles porque os meus colegas ficavam de recuperação no fim de ano enquanto eu passava direto por que focava nos estudos invés de ir aos acampamentos porque eu estava com problemas de média. Eu não me esqueço de uma professora nossa detonando eles na ocasião de um acampamento.

Em 2003, eu não sofria tanto com as provocações por uma questão de maturidade. Mas os meus colegas lidavam com problemas de aprendizagem por não assimilar o aprendizado. Eu não tinha muita pretensão sobre o ensino médio. Tanto que me inscrevi no último dia do vestibulinho do instituto. Passei na prova sem pretensões. Meus provocadores ficaram no caminho e na recuperação do Educere enquanto tive as minhas férias com o conselho de classe me dando 0.5 acrescentado na média do inglês por unanimidade.

Hoje, percebo que muitos dos meus colegas estão em profissões complicadas ou bem-sucedidos. Ao mesmo tempo que estou feliz fazendo aquilo que gosto na escrita. Muita gente sofreu os mesmos percalços do que eu. Mas agora, estão sendo reconhecidos por terem lutado contra isso. Assim caminha a humanidade….

Justificativas para ser esquisito

Eu sempre fui um sujeito isolado do mundo. Isso me rendia provocações no Educere por ser um garoto quieto e nerd de história e geografia. Em 2022, quando os ex-alunos de tal colégio particular onde estudei resolveram criar um grupo do whatsapp. Uma amiga minha me chamou pro grupo e finalmente fui informado que as meninas me viam como uma cara maduro e a minha fama de Don Juan era comentada por um grande amigo meu que fazia tempo que não conversava.

Mas eu era esquisito….

Hoje, várias pessoas da minha geração querem ir aos psicólogos entre outros terapeutas para descobrir se são autistas por ter um lado introspectivo. Muitos querem ser aspies por causa de um charme de ser nerd e seus interesses especiais. Logo notamos que a humanidade viu o lado belo de ser incompreendido com direito a obsessão dos pais em nos ver como um modelo perfeito para seus rebentos normies e pouco afeitos a loucura humana.

Mas eu era esquisito…

Muitos jovens e adolescentes estão carentes no mundo por não serem compreendidos. Então, eles reproduzem os estereótipos dos autistas e aspies por exemplo para ter uma validação por seus pares. Uma amiga minha no Threads sempre falam para aqueles que querem um diagnóstico de autismo para irem a um neuropsicólogo. Isso me lembra nos tempos da teoria junguiana onde todo mundo me perguntava como era a minha vida de esquizofrenico

Mas eu era esquisito….

As pessoas que tiveram o diagnóstico na primeira infância como este que vos escreve sempre lidavam com uma rotina de ir a psicóloga a tarde pra falar de nossas vidas invés de estar em uma aula de basquete como eu queria. Eu tive aulas de natação na época onde não tinha um amigo propriamente dito e ser visto como um mala por uma professora minha por não me adequar aquele mundo tão distante.

Na verdade, eu sou um autista com laudo médico…..mas não conta para os normies…