Um ancião perante os jovens

Eu convivo com os adolescentes no Facebook. Porém, percebo a falta de paciência dos meus contemporâneos de geração com os novatos. Logo vemos aquelas rusgas entre as pessoas por causa da diferença de idade que é exposta desde dos gostos musicais até as opiniões sobre o mundo e a humanidade. Isso me preocupa por não termos uma ponte entre dois mundos tão distintos onde os seres humanos possam discutir sobre as séries dos anos 1990 ou das músicas de 2020.

Quando era adolescente nos anos 2000. Eu tinha que bancar um Gorbachev nessas horas. No instituto, meus colegas ouviam heavy metal, emocore, classic rock e post-punk como eu. Nossa geração sempre colaborava nos gostos alheios por ter uma formação musical que em sua medida se enquadrava no ambiente do Rock N’ Roll. Estamos falando de uma escola pública onde tinha o vestibulinho para entrar na escola e ter direito a matricula para estudarmos o ensino médio.

Hoje, meus amigos adolescentes gostam de funk, sertanejo e sofrência. O que pode se apontar como a decadência do mundo cultural por causa do pouco acesso a formação musical em que minha geração tinha como uma forma de deixar claro a nossa separação intelectual perante nossos pais. Os adolescentes querem ouvir músicas onde possam se identificar e não ser discriminados por seus pares como acontecia com o movimento emo diante de letras com péssima qualidade musical.

Vários adolescentes querem ouvir as bandas pop sul coreanas como uma forma de pertencer a algo especial. Mas logo vemos que tais iniciativas criam atritos entre aqueles de gosto musical popularesco e a elite pensante de Seul. Logo percebemos que a coesão da minha geração foi forjada em um momento onde as rádios tocavam músicas com solos de guitarra para ter acesso ao grupo jovem como eu em minha fase de adolescente para escutarmos em um aparelho de MP3.

Hoje, vemos ascensão do serviço de streaming musical como Spotify e Deezer. Onde nós descobrimos um novo mundo para o nosso gosto de músicas onde os algoritmos possam nos oferecer opções baseados em nossos metadados como as buscas em tais serviços. Logo entendo porque vivemos em um tempo onde nos sentimos anciões onde nós podemos discutir assuntos que os adolescentes não iriam entender por não ter uma formação tão distante de sua realidade.

Um desserviço ao rock de Brasília

Quando eu tinha 17 anos. Minha mãe comprou um cd do Legião Urbana. Era a coletânea Mais do mesmo, de 1997. Eu perdi este cd durante uma arrumação da casa. Mas sinto triste com as notícias do que o herdeiro do espólio de Renato Russo está tolhindo a liberdade de quem deseja divulgar o legado do vocalista.

O Legião Urbana foi fundamental para o rock de Brasília em 1980 com o surgimento de bandas como Plebe Rude e Capital Inicial. O embrião disso foi uma banda do RR chamada Aborto Elétrico. Mas logo vi que o herdeiro do espólio e os integrantes do LU não sabem lidar com tal discografia desde da morte de Russo em 11 de outubro de 1996.

Nós que gostamos de rock nacional. Vemos um desmantelamento dos fãs do LU por causa da ganância entre os integrantes da banda e o herdeiro do espólio que pediu uma operação contra aqueles que julgava ter um material inédito por causa da uma vaidade pessoal sobre as músicas criadas pelo Russo.

Isso cria um desserviço para aqueles que desejam ouvir as bandas de rock dos anos 1980. O meu amigo Frizzo pegou ojeriza do LU por causa do sebastianismo dos fãs da banda. Eu comecei a ouvir o Capital Inicial na minha adolescência e mesmo assim, temos uma briga entre os membros do CI por causa de dinheiro.

O Rock de Brasília ajudou o Brasil em um momento onde as pessoas começaram a criticar o governo diante de uma necessidade de liberdade em um momento de transição da ditadura para a democracia. Mas tudo pode ser perdido por causa de um obscurantismo de espólio. Assim caminha a humanidade.

Humanos

Em 2002, Marcos Mion criou o programa Descontrole nos bons tempos da Band. Um dos clipes que foram satirizados foi da música Humanos, da banda Tokyo. Tal grupo tinha como vocalista Supla. Todo mundo pensa em tal nome de um cara de cabelo espetado e que é figurinha carimbada de reality shows como Casa dos Artistas (SBT, 2001) Papito in Love (MTV 2013 e 2014).

Mas Supla tem uma respeitável carreira musical mesmo com este esteriótipo de rockeiro doidão. A banda Tokyo teve o sucesso como Humanos e sua vida solo com singles Garota de Berlim e Charada Brasileiro. Sem contar a banda Brothers of Brazil que formou junto com o seu irmão João Suplicy.

Supla tem uma carreira respeitável fora de nosso país fazendo temporadas de shows no circuito independente europeu e americano. Mas ainda é motivo de piadas por causa de sua exposição nos reality shows tanto na tv aberta quanto nos canais a cabo. Logo lidamos como uma realidade onde se cria uma persona.

Eu lembro de entrevistas que ele deu ao Pânico onde ganhou o apelido de Touro Indomável pelo fato de se manter solteiro ao 54 anos de idade mesmo após fracassar duas vezes em achar um amor no reality Papito in Love e sem contar o romance com a atriz Bárbara Paz na primeira edição da Casa dos Artistas.

Logo vemos que ele tem bons singles, mas é um caso de um artista que não é levado a sério no território tupiniquim. Isso me faz ter uma ampla reflexão sobre o conceito de sucesso no nosso país. Humanos é uma música excelente para a cena pós-punk dos anos 1980 que nunca chegou ao trópicos.

Lirismo em meio ao caos

Nos anos 1980, o Reino Unido estava sob o comando da primeira-ministra Margaret Thatcher que convivia com duras críticas da sociedade por desmantelar o estado de bem-estar social britânico em meio a uma crise econômica. Sem contar com a corrida armamentista entre americanos e soviéticos na Guerra Fria junto com as encrencas da comunidade europeia.

Nessa década, a música pop britânica ganhava ares de expressão a tal tensão social. Se nos anos 1970, o punk-rock surgiu como uma válvula de escape ao declínio do estado britânico e seu status quo nas músicas de Damned, Sex Pistols, The Clash entre outras bandas. Na década de 1980, o pós-punk junto com a New Wave permitiam uma lufada de luz e boas canções.

Na Irlanda, surgia o U2 com álbuns fundamentais para a sonoridade da época como Boy (1980), October (1981), War (1983), Under the blood sky (1983), The Unforgetable Fire (1984) e The Joshua Tree (1987). No Reino Unido, com o fim do The Clash. Permitiu o surgimento de bandas como Gang of Four, The Smiths, The Cure, The Police, The Cars sem contar o Glam Metal de Def Leppard e Whitesnake.

No cenário New Wave, surgiu bandas como New Order, Depeche Mode, Siouxsie and The Banshees, Human League com a necessidade de expressar um sentimento da juventude que se sentia desolada com as reformas econômicas promovida por Thatcher como o Big Bang (que desregulamentou o mercado financeiro) de 1986 e o declínio das minas de carvão na Inglaterra e dos estaleiros escoceses.

Em 2020, nós nos deparamos com a crise sanitária do covid-19 onde os músicos recebem centavos por direitos autorais ao ver suas músicas serem tocadas nos serviços de streaming como spotify e deezer. Logo vemos músicos como a cantora Billie Eilish e o rapper Stormzy. Então, queremos voltar aos anos 1980 em uma Tardis do Doctor para ouvirmos Panic, do The Smiths.

 

Hard rock

Tenho dois conhecidos cinquentões que sempre usam o termo Rock Farofa para falar das bandas de hard rock e glam rock dos anos 1980. Eu penso que se trata de mais uma maneira de dizer que cinquentão é melhor do que um jovem que gosta de Rock daquela década como este que vos fala que não prefere ouvir Chico Buarque.

As músicas de bandas como Asia, Phenomena, Dokken e Skud Row tocavam nas rádios dos anos 1980 em detrimento da precária produção do rock nacional daquele período onde os militares se retiravam do poder com o legado de uma divida externa enorme para o padrão FMI e uma inflação galopante.

Os jovens dos anos 1980 não tinham referências de fora. Quem era um desbravador disso era o finado Kid Vinil com seu modus operandi para descobrir boas bandas. Ao mesmo tempo que tivemos surgimentos de bandas hard rock em polos como a Inglaterra e Los Angeles para o alívio das gravadoras.

As bandas dos anos 1980 sempre propagavam um modo de viver com letras ácidas e com um visual com cabelos compridos e corpos esbeltos. Maioria das bandas se esbaldavam na noite como uma forma de demanda reprimida pelos pecados mudanos para poder escrever boas músicas que me encantam.

Hoje, o rock é um lugar underground onde vemos jovens fazendo um bom som. Mas não entendo onde erramos ao lidar com os combos indies que mal sabem tocar uma bendita guitarra. E ainda tenho os meus conhecidos cinquentões usando o termo rock farofa. Prefiro um bom Hard & Glam Rock por esse motivo.