Os dilemas de Genebra

Amanhã, o mundo estará de olho na cidade suiça de Genebra. Onde será sediado a conferência de paz da Síria. A reunião entre o governo do ditador Bashar Al-Assad e a oposição promete ser um passo decisivo para o fim da guerra cívil que atinge o país nos últimos três anos. Mas a cupúla será um importante teste para a geopolítica mundial.

Além de reunir os aliados da oposição como Estados Unidos, União Européia e Arábia Saudita e os países que apoiam o governo sírio como Rússia e China. O Irã, um dos pilares do regime autoritário sírio, foi desconvidado por pressão dos americanos. Mas a presença iraniana é importante para que se tenha um acordo de paz.

O jogo de xadrez que se transformou a guerra cívil na Síria mostra quão complicado fazer um acordo que agrade ambos os lados do conflito. Os principais temas são a renúncia de Assad, o acesso de ONGs as áreas de conflito e a troca de prisioneiros. O ponto das armas quimica foi decidido no ano passado com o acordo EUA-Rússia.

O grande problema da oposição síria seja a falta de articulação entre o grupo político e o braço militar. Isso criou problemas e fez que organizações terroristas ligadas a Al-Qaeda tivessem força no país para implementar a sua visão radical de islamismo. No lado de Assad e seus aliados permanecem unidos tanto em momentos vitoriosos quanto nas derrotas traumáticas.

Amanhã será um dia o mundo poderá sair da inação que vive para parar a carnificina que vive. A diplomacia terá que ter habilidades para costurar um acordo temporário para se possa ter a paz definitiva. Só não sabemos se isso custará o emprego de Assad ou o enfraquecimento da oposição. Só o tempo irá responder a essa pergunta.

Um acordo de cavalheiros

Hoje, o mundo viu um acordo de cavalheiros entre russos e americanos sobre as armas químicas sirias. O acordo feito entre o secretário de estado americano John Kerry e o ministro russo das relações exteriores Sergey Lavrov. O acordo estabeleceu um ultimato ao governo sírio entregar um relatório indicando quais lugares e qual quantidade de agentes químicos devem ser entregues ao controle da ONU. Caso o acordo falhe, a ONU pode decidir por uma resolução que imponha mais sanções ou o uso da força militar.

Isso é um passo importante, mas não para a guerra cívil que o país árabe vive desde de março de 2011. Tanto que o acordo foi criticado por líderes militares da oposição síria como o Gen. Salim Idriss e por alguns senadores da oposição republicana no congresso americano como John McCain e Lindsay Graham. A guerra civil no país árabe vai continuar.

O acordo sobre as armas químicas sírias evita que novas atrocidades sejam feitas contra civis. Mas temos uma desconfiança sobre as intenções do presidente sirio Bashar Al-Assad. Ontem, o relatório da ONU sobre o ataque químico do dia 21 de agosto indicou que o governo de Bashar Al-Assad é o responsável por isso. A declaração do secretário-geral Ban Ki-moon foi enfática em indicar a culpa de Assad. Mas hoje ele saudou o acordo russo-americano.

O grande vencedor deste acordo é o presidente russo Vladimir Putin. Putin usou este acordo como uma carta na manga. Nunca iriamos imaginar que um líder eslavo que é contestado por suas medidas autoritárias contra os gays e a oposição pudesse se tornar um paladino da paz. Isto é uma pura irônia do tempo confuso que vivemos.

Um possível conflito militar envolvendo a Siria e EUA e seus aliados foi adiado até segunda ordem. Mas temos que observar com atenção os próximos passos deste acordo feito por americanos e russos. O futuro da humanidade depende deste acordo. Mas será que isso é um primeiro passo para o fim da guerra civil de quase três anos envolvendo Assad e rebeldes? Só o tempo responderá a essa questão.

 

Obama vai a guerra?

Há poucos minutos, o presidente americano Barack Obama fez um pronunciamento em rede nacional de TV.  O discurso daria uma explicação dos motivos que o governo americano pretende ir a guerra contra a Siria e suas armas quimicas.  Obama falou no salão oval da Casa Branca (sede do governo americano) para uma platéia cética em relação a guerra e afins.

O discurso foi mais do mesmo. Obama falou da necessidade do país ir a guerra. Ele disse que os Estados Unidos é uma âncora da segurança global ( como os americanos fossem os salvadores do mundo contra o caos que ameça o planeta).Um dos pontos cruciais do discurso foi dizer que o aatque militar a siria não teria uso de tropas americanas. Isso significa que os americanos só farão ataques aéreos contra as instalações sírias.

O discurso de Obama é uma forma que a Casa Branca para convencer o mundo que um ataque militar no país árabe é necessário. Mesmo com o plano alternativo proposto pelos russos de que o governo do ditador Bashar Al-Assad passe o controle dos estoques de armas quimicas para a ONU. O plano foi aceito pelo governo sirio e ainda está sendo estudado pelo governo americano e seus aliados.

Os ataques químico do dia 21 de agosto mostraram a incapacidade do ocidente em evitar uma carnificina genocida patrocinada pelo ditador Bashar Al-Assad. A reação ocidental ao conflito com um discurso de proteger a população local não agrada parte da população ocidental, que ainda está se recuperando das guerras do Iraque e do Afeganistão. Os americanos não estão dando uma carta branca para Obama e seu exército agirem para salvar os sírios.

Obama fez um discurso para convencer os americanos e o senado, que vota uma resolução permitindo a ação militar americana na síria amanhã. Ao ver o discurso de Obama, tivemos a sensação de vermos um líder hesitante e deixando claro que é uma intervenção militar e não uma guerra. Mas fica a pergunta: Será que a Siria é o próximo Iraque ou Afeganistão? Só o tempo vai responder a essa questão.

 

A indecisão britânica e a fragilidade de Cameron

Hoje, o parlamento britânico vetou uma intervenção militar do país europeu na Siria. A decisão foi uma ducha de água fria para o premiê David Cameron, que pretendia ter apoio do parlamento para poder colocar as suas tropas em uma ofensiva militar contra o ditador sírio Bashar Al-Assad e suas armas químicas. Tal armamento pode ter sido usado contra a oposição local e civis na semana passada na periferia da capital, Damasco.

A decisão mostra que Cameron não tem tanta força como líder do partido conservador. Tanto que membros de seu próprio partido votaram contra a medida. Por outro lado, os trabalhistas estão mais unidos em volta de seu líder, Ed Miliband. Na votação de hoje no parlamento britânico vimos um Cameron tentando ser Winston Churchill de séc.21 enquanto Miliband atuava como a consciência da nação britânica sobre os riscos de uma intervenção militar na Siria.

Por outro lado, vimos os liberais-democratas do vice-premiê Nick Clegg  votando contra o governo do qual faz parte da coalizão com os conservadores. A decisão é controversa porque o governo britânico que Cameron lidera queria estar preparado para atacar a Siria antes de qualquer decisão da ONU ou do relatório da comissão de armas químicas das Nações Unidas sobre o ataque da semana passada.

A fala de Miliband pedindo que o parlamento espere a decisão da ONU sobre o caso sírio foi um momento de sensatez. Ao mesmo tempo, mostra quão difícil é uma decisão de declarar guerra a um país no afã de proteger a população civil das atrocidades  de seus ditadores. As potências ocidentais e a ONU vive um dilema onde não se tem uma saída com pesadas consequência para ambos os lados.

Para a política britânica, a votação mostra que os líderes dos grandes partidos como conservadores, trabalhistas e liberais-democratas não tem pulso firme para controlar os seus deputados. Com a liderança contestada. Estes lideres queriam mostrar nessa votação de quem dá as cartas na política local. Mas o que vimos é um parlamento onde os deputados estão traumatizados em declarar  uma guerra depois do resultado desastroso que foi a Guerra do Iraque em 2003.

O atual status quo político britânico pode definir se o país poderá agir em um conflito como na Siria. Os britânicos dão sinal que uma guerra com o fim de proteger uma população de seu cruel ditador tem que ter apoio da comunidade internacional para poder agir de forma legítima. O parlamento britânico podem votar novamente sobre a questão síria depois do relatório da ONU sobre o suposto ataque químico. Mas não sabemos se Cameron terá força para aprovar uma intervenção militar no país árabe. Esperemos os próximos capítulos.