Meus pais entre a F1 e a Playboy

Em 2005, minha mãe não me deixou ir em um festa do instituto. Ela estava insegura em relação a mim em um ambiente de balada. Nós choramos na conversa e ela propôs que eu fosse sair com o meu pai na manhã seguinte. Meu pai cuidava de mecânica elétrica na sua oficina e tinha que ir para um porto de areia em Tremembé pra fazer reparos em uma máquina.

Quando fomos almoçar em um restaurante de comida italiana. Eu lhe contei um causo onde o presidente americano Ronald Reagan foi ao hospital em Washington após sofrer um atentado em 1981. Ao ir a sala de operações; ele perguntou se os cirurgiões eram republicanos. Meu pai riu disso e me falou sobre humor entre pai e filho rindo por ter comprado uma playboy pra mim.

Meus pais nunca nutriam expectativas sobre mim. Mas ficavam orgulhosos de mim por ser eu mesmo. Eu falando com eles sobre Formula 1 era uma coisa tão trivial para mim porque a minha mãe era fã de Gilles Villeneuve enquanto meu pai falava de Niki Lauda. Mas o meu herói era Stirling Moss por causa do senso de humor junto com Tony Brooks que descobri na pior fase das provocações onde não levava revistas para o Educere.

Hoje, eu vejo os meus colegas de educere que já são pais nutrindo expectativas sobre os filhos e se esquecem do primordial: deixa eles viverem… Meus pais não tinham como pagar um curso de inglês devido aos custos da minha psicóloga que o Educere indicava por causa do autismo. Mas lembro da minha mãe indo a banca pra comprar uma edição especial da quatro rodas e meu pai me levando para a livraria.

Meu pai sempre ria quando falávamos sobre Playboy enquanto a minha mãe falava com gosto sobre o meu gosto pela criação do Hugh Hefner……

Os outros não querem te aceitar

Eu tenho um amigo mais jovem do que eu que estuda na USP. Ele tem uma sexualidade complexa com suas variáveis. Porém, como a faculdade é uma colcha de retalhos de grupos com discussões acadêmicas sobre assuntos humanos. Logo viu uma enxurrada de gente lhe fazendo críticas no xmusk. Sem contar outros alunos de classe média com aquela discussão contra o trinômio patriarcado-heteronormatividade-identitarismo.

Mas será que seremos aceitos?….

Os tempos são outros como vamos ouvir de alguém. Mas me permitem contar uma história pessoal. No Educere em 2003. Eu não tinha tantos problemas relacionados a provocações como hoje é conhecido como bullying. Eu tentava ser aceito pelos meus colegas. Mas isso foi em vão. Eu fui tomar o meu rumo e cuidar da minha vida. Nessa época, eu ficava conversando com o meu pai quando eu ia para a oficina esperando uma carona para a minha casa.

Muitos dos meus colegas foram ao NR para uma viagem de formatura. Como aquilo era caro pra burro. Decidi ficar na escola por que precisava melhorar a minha nota no Inglês e estava economizando para a minha formatura. Foi assim em um acampamento dos meninos onde eu e um grande amigo decidimos não ir também. Resultado: eu passei direto de ano e consegui ir bem no vestibulinho do instituto naquele ano.

Eu já estava com 15 anos e vivendo a minha vida sem ter a necessidade de ser aceito por minhas opiniões ou índole. Eu encontrei a paz ao ter amigos mais velhos junto com os meus pais. Isso me ajudava em inúmeras questões como a minha sexualidade florescendo. Minha mãe ficava preocupada por que eu via o cine band privê e com medo de cometer os erros. Tanto que meu pai foi conversar comigo sobre esse assunto e nos entendemos.

Hoje, os jovens culpam os pais pelo mundo como se estivéssemos na Alemanha Ocidental de 1970 no meio da ascensão do Baader- Meinhof. Tanto que nos tempos do instituto. Meus pais estavam mais tranquilos com a minha sexualidade mesmo com os causos folclóricos de comprar a playboy para mim mesmo sendo dois adultos. Isso me rendia as piadas do meu pai e o orgulho da minha mãe a plenos pulmões….

Então, acho que vocês poderiam ser aceitar melhor….

Trump dá audiência

Eu ia ouvir o papo informal na Bloomberg. Mas estavam em regime de plantão por mais um julgamento de Donald J. Trump. Fui ver o Sportsday, da BBC News, mas outro modo de repercussão do Trump. Você que lê se pergunta porque não comentar sobre o assunto do momento. Porém, há pautas que nos sufocam por ser de âmbito público e não permitem uma liberdade para destrinchar. Isso é tudo pela audiência.

Na BBC, um dos convidados argumentou porque o capitólio não poderia ter cassado os direitos políticos do ex-presidente após os ataques de 6 de janeiro. Mas lembrei que os republicanos no Senado bloquearam a medida por causa de não atingir o quórum de 60 senadores pra aprovar a medida que é conhecida nos Estados Unidos como filibuster (onde uma indicação na suprema corte precisa ser aprovada por 2/3 do senado americano). Uma coisa que ainda não é descartada e só lembrada quando tem algo impopular na pauta.

Sem contar o fato da TV americana gostar de ver o circo pegando fogo em Washington DC em seus acalorados debates seja na tv a cabo com seus canais de notícias como um opióde midiático ou nos telejornais noturnos com um amplo debate sobre o assunto entre o âncora e o diretor de política. Sem contar os sites de cobertura política que agem como os comentaristas das emissoras esportivas por causa da audiência.

Estamos em um momento onde a sociedade não tem muita paciência pra a grande mídia. Eles apelam para um infowars se for um daqueles que acreditam nas teorias conspiratórias de plantão. Sem contar as pregações nas estações de rádio junto com as emissoras locais pelo fato nos Estados Unidos não permitir a propriedade cruzada e as cabeças de rede não podem ser donas de cadeias de afiliadas que são propriedades de grupos de comunicação como os proprietários do jornal Chicago Tribune.

Por mais que surgem vozes independentes como o Channel 5, de Andrew Callagham, em seu trabalho quixotesco de cobrir a América em um motorhome. Torcemos que a Vice possa sair do marasmo de lucro onde foi enfiada por causa da loucura dos acionistas onde Shane, o fundador, se meteu assim como os donos de revistas masculinas como Playboy e Penthouse fizeram de forma tresloucada ao lado de Jann Werner e sua megalomania chamada Rolling Stone sob o comando da Condé Nast.

E Trump dá audiência….

Uma questão de multiverso

Eu tenho dois amigos americanos que são filósofos e professores universitários. Ela trabalha em publicações acadêmicas enquanto ele dá aulas em uma universidade. Eles estavam discutindo sobre o multiverso por causa da piração de um físico quântico dizendo que existem vários universos explorados nesse plano. Então, eu argumentei que tal visão vem da imaginação onde se pode ter a visão de tal proposta.

A questão das realidades paralelas vem dos tempos do programa Além da Imaginação na TV americana onde contava histórias em universos paralelos. Isso rendeu uma encrenca para Hugh Hefner quando a Playboy americana publicou um conto de um dos roteiristas da série onde o enredo em que uma ditadura onde não se permitia relações heterossexuais em 1955. Hefner argumentou que os gays tinham o direito de questionar isso.

Em 1985, Watchmen era lançado nos quadrinhos onde o Doutor Manhattan tinha vários clones em diferentes universos. Sem contar que a história de Allan Moore mostra uma realidade alternativa onde os Estados Unidos venceram a Guerra do Vietnã e Richard Nixon estava em seu quinto mandato como presidente do país. Além do fato de Ozymandias ter seu plano de salvar a humanidade do juízo final da guerra atômica.

JJ Abrahams criou a série Fringe em 2010 para ser exibida na Fox americana onde uma divisão da FBI cuidava de casos estranhos envolvendo multiversos a partir das aventuras do professor William Bishop que cria várias coisas bizarras a serviço do governo americano juntando as tramas de Philip K. Dick como o Adjustment Office onde figuras usando chapéus e trench coats tinham que corrigir os rumos da linha temporal.

O fato de um físico questionar a existência de vários universos se ampara no recurso narrativo criado nas histórias de quadrinhos da DC e da Marvel onde seus heróis enfrentam tal questão em diferentes planos antes de começarem suas jornadas heroicas. Logo entendo porque os meus amigos filósofos se deparam com mais uma questão de ordem epistemológica diante de mais um cientista em seu modo LSD para novas percepções.

Como escrever um ensaio sobre o mundo contemporâneo?

Minha amiga colunista da folha é editora de uma revista acadêmica que discute as questões de gênero. Logo perguntei se tinham um blog e ela me respondeu que sim. Então, me candidatei para escrever um texto sobre o assunto em voga como a questão da relação entre homens e mulheres no mundo contemporâneo. Mas tenho que ser honesto com as pessoas.

Eu sou um colecionador da revistas masculinas como Playboy e Sexy. Mas lidamos em um tempo onde a nudez é castigada com razão. Ao mesmo tempo que vemos os extremismos do sexismo onde os prazeres mudanos são considerados pecados mortais por aqueles que se consideram paladinos da razão pelo simples fato de defender as aparências de uma sociedade.

O paradoxal é que Hugh Hefner, Bob Curcionne e Larry Flint foram defensores da liberdade de expressão nos Estados Unidos da Era Reagan mesmo sendo donos de revistas como Playboy, Penthouse e Hustler respectivamente. Ao mesmo tempo que tinham que lidar com a revolta feminista contra a objetificação da mulher como fez Gloria Steinem em um ensaio na revista Show em 1963 onde descrevia os dias de trabalho como coelhinha no Playboy Club de Chicago.

Como homem caipira do interior. A revista masculina é vista como um símbolo de virilidade e uma dor de cabeça para quem for casado. Isso me lembra de uma vez que meu amigo Renan me deu um baralho da Playboy de 1992 porque começara a namorar e eu era o único adolescente solteiro da minha turma. Tanto que tenho esse objeto até aqui em casa.

Hoje, as revistas masculinas são vistas como algo antiquado. Mas o legado para homens e mulheres e as pessoas trans é que permitiram uma longa discussão sobre a sexualidade humana. Ao mesmo tempo que a decadência de tal modelo de negócio ficou evidente nos últimos anos com a morte de Bob e Hugh junto com a obsessão de Flint em desvendar os podres públicos. Enfim, este é o mundo contemporâneo.