O conceito sobre amigos

Eu tenho um grande amigo como Davizinho. Ele é evangélico daqueles que alia os estudos da biblia junto com a sua vivência na juventude de cristo. Um dia, eu estava falando sobre ter amigos com ele. O conceito de amizade em sua visão é daquele que temos além de uma afinidade, mas que o possa lhe guiar em um momento de dificuldade com a palavra onde ofereça acolhimento em meio a navegar em um mar revolto.

Pensei nisso quando vi os tweets seja no xmusk seja no Threads sobre amizade. Estamos falando de pessoas mais jovens do que eu em sua busca para serem aceitos pela sociedade. Não há algo sólido na amizades contemporâneas. Eles querem definir seus conceitos sobre amizade para os outros invés de colocá-los em prática. Estou dizendo que tem muita gente querendo impor regras, mas que não conversam com os outros.

Eu vejo isso na minha vida virtual. Muitas amizades que fiz eram de gente que não tinha paciência para um desabafo pessoal ou me tratava mal sem necessidade. As minhas saídas de vários grupos de pessoas na minha faixa etária nos anos 2010 foi por causa deste sentimento de desamparo pessoal mesmo lhe oferecendo uma acolhida em meu tempo para escutá-los enquanto falavam de seus problemas entre outras frustrações cotidianas.

Meus amigos de vida adulta sabem que podem contar comigo. Assim como aqueles com quem convivi nos tempos do Educere e do Instituto nos quais eu perdi o contato. Sempre deixo claro que sabem onde podem me encontrar para ter um papo. Hoje, as pessoas tem vergonha de assumirem suas fragilidades perante os outros. O ar de uma pessoa forte escondem as fraquezas pessoais que só relatamos em conversas privadas.

Logo me vejo conversando com as pessoas mesmo tendo uma fama de antissocial. As pessoas com quem converso por meio das redes sociais se mostram desamparadas seja no mundo real seja no plano virtual. Esquecemos que as nossas amizades são uma ponte em construção para integrar duas partes separadas por uma imensidão cuja as distancias são reduzidas por nossos elos comuns. Assim que penso sobre uma relação humana.

Uma pessoa para conversar

Quando comecei a terapia para a esquizofrenia em 2011. Procurei achar os meus amigos dos tempos do Educere e do Insttituto porque os conhecia pessoalmente para me socializar. Demorei um pouco para ter amigos virtuais com quem poderia conversar e não me arrependo. Porém, as redes sociais tem muitos problemas com as pessoas criando bolhas para si invés de criar pontes para o desconhecido com quem podemos falar de nossos elos comuns.

Eu estava no Threads quando vi uma mulher que reclamava dos homens que ignoravam as mulheres em detrimento ao futebol. Eu a defendi de um machinho que foi me criticar por ter me posicionado em favor dela na questão das fotos de bíquini. Ontem, ela falou que se sente indiferente em relação as pessoas que a ignora. Bem, perdi mais uma mulher com quem poderia conversar e não fico bravo com tal pessoa em uma rede social.

Eu lembro de uma vez que uma tia minha queria que eu conversasse com uma amiga dela por achar a minha conversa interessante. Mas isso não foi pra frente. Sem contar as pessoas que ficam perdidas comigo porque falos de assuntos bem diferentes. Isso me lembra de um senhor com quem falava sobre a primavera de Praga e depois a ele contou para a filha dela que não entendia o que eu estava falando segundo o relato da minha mãe.

Sem contar as pessoas com quem conversava no Facebook que não entendiam os assuntos que estava falando e ficavam irritadas comigo por ser um inteligente demais. Mas o que me chateava era ser ignorado por que a humanidade não teria modo de acompanhar o meu raciocínio para os assuntos que gosto de me informar. Logo me sentia incompreendido porque não era aceito por falar de política britânica.

Mas não abaixar a cabeça nesses momentos te ajuda porque achamos alguém com quem podemos conversar. Isso é importante por que você não se intimida com a humanidade e suas pautas de conversas estúpidas. As redes sociais aproximam as pessoas e os afasta ao mesmo tempo se não encontrarmos alguém com uma afinidade entre os elos comuns. A indiferença se faz presente em um momento de isolamento humano.

As más notícias do front ocidental

Eu tenho uma amiga que é autista que mora no Canadá. Ela ficou ausente das redes sociais por um tempo por causa da últimas notícias vindas do Rio Grande do Sul. Uma conhecida minha adotou a mesma estratégia. Na eclosão da guerra Israel-Hamas, eu fiquei mal com o mundo com direito a crise de ansiedade. Tive que me afastar do noticiário por uma semana. Mas será que as últimas tem nos feito tão mal?

As pessoas estão mais expostas as reações do mundo e se adoentam por se sentirem impotentes e com as mãos atadas diante do cenário desolador que nos assola. Isso se amplificou com as redes sociais onde a humanidade expõe suas virtudes e seus vícios sem filtro. A guerra em Gaza deu palanque a pessoas que se julgam as ditadoras da minha opinião enquanto a tragédia no Rio Grande do Sul deu palco ao cinismo e descrença.

Isso me lembra o doctor Jeckill e Mr. Hide tão bem representado pelo desenho do Pateta nos anos 1940 onde um educado pedestre se transforma em um motorista monstruoso. Porém, isso ocorre na humanidade por que as redes sociais são isentas de responsabilidade por opiniões ditas por seus usuários. Isso é um pilar da internet comercial criada nos Estados Unidos em 1996 sacramentada pelo artigo 230.

Hoje, os jovens sofrem com as redes sociais por ver o pior da humanidade. Ao mesmo tempo que pessoas como eu e a minha amiga autista sofremos com as nossas crises existenciais. Em tempos que se inventam novos métodos de educação que não resolvem o cerne da questão de nossos adolescentes que não sabem interpretar um texto ou perderam a capacidade de separar a ficção da realidade por meio de tais textos de rede social.

As notícias não nos fazem mal. Mas a rede social com seus problemas e sua forma de ver o mundo onde o ódio é o combustível do pensamento público não nos permite ver o lado belo da vida como a generosidade brazuca com o povo gaúcho ou as pequenas conversas entre palestinos e israelenses com suas diasporas tentando achar o ajuste fino da paz mesmo com o Hamas e o Bibi querendo enterrar a paz entre nós. Afinal, o bom coração não dá lucro no vale do sílicio.

Uma ponte invés de uma bolha

Eu terminei uma amizade com um amigo porque não conseguia me sentir livre por ele estar me podando de diferentes maneiras. Eu senti um pouco a sua falta por não ter alguém pra conversar sobre futebol. Porém, isso me fez ter a liberdade de assistir os jogos da Premier League sem ter tal fantasma em minha mente. Mas muitas pessoas não se sentem confortáveis de romper algo por perder um sentimento de fazer parte de uma comunidade.

Em 2020, eu fui cancelado por uns colegas da F1tt br por ter sido rude com uma mulher enquanto estava em um podcast por ter feito o pecado capital de ter perguntado sobre pilotos bonitos e ter feito duas correções durante a entrevista. Isso me custou um isolamento. Mas me abriu uma porta por ir ao mercado internacional e isso me deu alegrias como conversar sobre Formula 1 com o meu amigo britânico.

As pessoas estão acostumadas com as bolhas do que construir pontes para o desconhecido. A internet e seu manto do anonimato e da ditadura da minha opinião criou tais barreiras onde não se tem um compromisso de um ajudar o outro. No futebol não é diferente quando estou no Twitter e vir a enxurrada de torcedores do Bayern de Munique enputecidos com Thomas Tuchel ou a F1TT irritada com a narração brasileira.

Eu vejo o mundo com uma ilha com cabos submarinos e isso me ajuda a manter contato com vários amigos com quem posso conversar nas redes sociais. Isso só me mostra que a socialização se faz presente por que uma bolha não lhe permite pensar diferente ou criar dissidências em um momento de insatisfação com os rumos de um grupo. Sem contar o sentimento de superioridade na frase que não estamos preparados para conversar ou o pecado mortal de discordar.

Só queremos ter a liberdade de relacionarmos com as pessoas por nossos elos comuns invés de pensarmos de forma monolítica sobre um determinado assunto. Hoje, eu fico com mais livre para conversar e trocar ideias. Mas nem todo mundo tem essa coragem para romper o cordão umbilical da amizade abusiva e ter um momento onde podemos curtir a vida sem ter tantas patrulhas em nossas mentes.

Um diálogo digital

As vezes, eu vejo as redes sociais tão confusas em si. Os universitários desabafando como se discursassem no Hyde Park enquanto os influenciadores digitais querendo ser aceitos por seus pares enquanto eu não quero engajamento, só quero conversar. Poderia estar reclamando, mas sinto que as coisas estão complicadas diante de um problema como a falta de diálogo entre as pessoas de diferentes gerações.

O meio digital nos forçou a sermos jovens rapidamente. Hoje, temos conceitos como boomers, geração X e Y junto com os millenials. Tais coisas criadas por alguém que se dedica a classificar e rotular os outros. Isso me soa estranho por justamente ter sido criado em uma era onde a tecnologia não ditava os rumos das nossas vidas. Eu sempre ficava distante do mundo com os meus pensamentos sentado em um banco vendo o tempo passar.

Hoje, todo mundo quer registrar as suas opiniões nas redes sociais para ter uma aprovação perante seus pares. Mas isso cria um sentimento onde se tem uma autocensura porque não podemos falar aquilo que pensamos por tem alguém que não irá concordar e vai por tal pessoa na malhação do judas do mundo virtual. Ou seja, um debate público ou uma conversa privada são alvos de uma necessidade de julgarmos os outros.

Vejo o mundo com uma ausência de diálogo. As vezes, sou ignorado por jovens uspianos quando respondo um tweet deles. Eu fico na minha porque tenho amigos com quem posso conversar. Só que nem todo mundo tem uma cabeça fria nessas horas e parte para a ignorância com aquelas delicadas formas de ofensa gratuita de rede social com o intuito de destruir a vida alheia diante de tal falta de convívio.

Muitos jovens ou pessoas mais velhas estão nas redes sociais para ter uma ocupação de tempo onde possam conversar. Porém, estamos em um momento onde a humanidade quer ter mais razão do que trocar ideias com o próximo. A ágora pública como foi moldada a internet nos tempos da ingenuidade foi deixada de lado para ser uma nova fronteira dos fracassos e decepções humanas onde não temos como fugir disso.